REFLEXOS DE UMA CENTELHA

Ao refletir sobre a vida

Penso no que já passou

Se belas flores murcharam

O doce fruto ficou

Com o trigo semeado

Muito joio foi ceifado

Mas o pão nunca faltou.

Comigo bem eu estou

Apesar das desventuras

Se obtive alegrias

Também tive amarguras

Ao mal eu declarei guerra

E enquanto luto na terra

Dou glória a Deus nas alturas.

Penso em vitórias futuras

Com o pé firme no chão

Nunca se pode ter tudo

Pouco perdi até então

Nesta vida que é um jogo

Trago na alma o fogo

E a brasa no coração.

No meio da escuridão

Hei de ser um vaga-lume

Sabendo que se cair

Será pra subir ao cume

O espinho fere a flor

E esta lhe paga a dor

Exalando mais perfume.

Muito mais intenso é o lume

E a estrela mais brilhante

Quanto mais escura a noite

Para um pobre viandante

E assim sempre eu digo

Que vou me encontrar comigo

Ainda que bem distante.

Melhor é seguir avante

Voltar atrás não se pode

Lá no alto a cada instante

Uma supernova explode

Se paro ou caminho a esmo

Achando que o céu é o mesmo

Logo um trovão me sacode.

Desejo que o mundo rode

Até a mais não poder

Para que nele eu me esconda

E alguém possa me ver

Nas trevas da noite fria

Em busca da alegria

Que novamente eu vou ter.

Espero nunca me ver

Sobre o solo estirado

E os vadios em volta

Alegres com o achado

Dizendo: - Este que se foi

É um bode que quis ser boi

Não berrou e foi ferrado.

Quem foi muito abençoado

Por sua santa mãezinha

Jamais herda uma sina

Tipo madrasta mesquinha

Não vou morrer solitário

Pois mesmo no meu calvário

Está a sorte madrinha.

A Fada com a varinha

Despertou-me de meu sono

E acordei com os latidos

De um cão do qual sou dono

Que lambeu-me e disse: Oh rei

Ao seu lado eu estarei

Não se sinta no abandono.