O Príncipe que virou Sapo-Cururu

I

A violência de gênero

É algo que nos assusta

Ela está nas entrelinhas

É monstruosa, robusta.

Deusa estereotipada

Má, multifacetada

Silenciosa e viral...

Chega sem fazer alarde

Amanhã pode ser tarde

Pra combater esse mal.

II

Trata-se d’uma Epidemia

Global, e silenciosa

Tal qual fosse Ebola

Ou a Aids, perigosa.

São mulheres e meninas

Vítimas de mãos assassinas

Eu me pergunto: O quê há?

Pois isso “não é normal,

Aceitável nem banal”

Façamos algo, e já!

III

Façamos por nossas mães

Nossas irmãs, nossas filhas.

Pelas gerações vindouras

Pra que siga novas trilhas

Num mundo sem violência

E assim nossa descendência

Não venha a ser mutilada

Façamos algo urgente!

Ou mudamos no presente

Ou não mudaremos nada.

IV

Diga não à Violência

Doméstica e Familiar.

Ou Violência de Gênero

Se assim quiser chamar.

Mas por favor, diga não.

Não peque por omissão

Pois ninguém está isento

De sofrer essa mazela

Que ao mundo se revela

Espalhando sofrimento.

V

Mulheres estão morrendo

Acredite se quiser

Simplesmente pelo fato

De ter nascido mulher.

A taxa de homicídios

Mostra os feminicídios

Que ocorrem ao redor do mundo

A “caça às bruxas voltou”...

E a barbárie se instalou

Causando um corte profundo.

VI

Hoje as mulheres morrem

Por razões bem diferentes

À magia não recorrem

Os motivos recorrentes

Um deles: amar demais.

Um príncipe que foi capaz

De tomar a sua mão

E resgatá-la do castelo

Eis que o príncipe forte e belo

Conquistou seu coração!

VII

Quase toda mulher sonha

Com esse conto de fada

De viver sempre risonha

De amada e ser amada.

É aí que ela se entrega

Ao amor e fica cega

Sem pensar racionalmente

Mas quem não perde a razão

No fogo de uma paixão

Adulta ou adolescente!

VIII

O amor é inerente

À natureza humana

Mas o ódio também é

Fruto da mente tirana

Um eleva, o outro mata

Um liberta, o outro ata

Estão em lados opostos

Mas dentro do mesmo ser

E nessa guerra de poder

Todos nós somos expostos.

IX

Ninguém casa pra sofrer

Pensando em se separar

Se casa pra ser feliz

Ter filhos, formar um lar

É assim que a mulher pensa

Movida por sua crença

Que um dia ele vem

Lhe pedir em matrimônio

Não é esse o maior sonho

Que a maioria tem?

X

De “ser feliz para sempre

Até que a morte os separe”

Na saúde e na doença

Antes que alguém diga:

-Pare, senhor padre, o casamento!

Ou se cale para sempre...

E possa se consumar

A troca de alianças

Trazidas por duas crianças

E a noiva poder beijar.

XI

É lindo esse ritual

Tantas vezes repetido

Por séculos e por milênios

Até hoje assim tem sido.

Com meu avô, com meu pai.

Comigo e assim vai

Ser também com filhos meus

Jurar amar, ser fiel

Não somente no papel

Mas perante a Lei de Deus.

XII

E o príncipe encantado?

Virou sapo-cururu

Após anos de casado

Hoje vive de lundu.

Pois aquele cavaleiro

Deixou de ser cavalheiro

Hoje é seu opressor

Ela ao fim de tanta mística

É mais uma na estatística

Das que morrem por amor.

Tião Simpatia
Enviado por Tião Simpatia em 28/12/2014
Código do texto: T5083446
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