ENCONTRO DE JOÃO SEM RUMO COM CELSO ITAPARICA

Na Bahia antigamente

Era fácil de achar

Homens trabalhadores

Bom também para brigar.

Por isso peço atenção

Só tire sua conclusão

Quando a historia terminar.

O famoso joão sem rumo

Era um grande valentão

Andava a fim de encrenca

Por toda a região

Saiu por vários estados

Dava pena dos coitados

Que topava com o negão

Pro lado de Pernambuco

Teve uma briga afamada

Com tal de Zé cachaça

Que ate hoje é comentada

Zé era muito violento

Mas seu arrependimento

Foi a sua atrapalhada

Foi numa bodegazinha

Que houve o ocorrido

Zé com sua arrogância

Quando fez o seu pedido

Viu o nego ali sentado

Ficou ele perturbado

E o negão foi confundido

Negão eu te conheço!

Não sei de qual lugar...

Mas vou logo lhe dizendo,

Tu vai ter que se mandar.

Pois eu sou o Zé cachaça

Não me faça pirraça

Pra eu não te acertar.

_Caba não te conheço,

Nem quero te conhecer ,

Valente da sua laia

Botei muitos pra correr

Vou fingir que não ouvi

E você pode sair

Antes de eu lhe bater.

Zé cachaça se tremeu

Quando João sem rumo falou

Ele pode ver a encrenca

Que ele agora encontrou.

Caiu pra cima de João

Com a garrafa na mão

Mas o Zé não escapou.

Com uma grande maestria

João se desviava

E com toda facilidade

O Zé ele acertava

Mas foi um escorregão

Que se deu fim a confusão

Quando Zé agonizava.

Foi o fim de Zé cachaça

Um famoso valentão

Caiu por cima da garrafa

Que estava na sua mão.

João sem rumo saiu

Ninguém viu como partiu

Nem qual foi a direção.

João sem rumo aparece

Em São Luiz do maranhão

Dessa vez ele topa

Com um valente capitão

Perverso e mal criado

Do tipo endiabrado

Para dar cabo do negão.

Em uma feira local

Numa ronda de rotina

Capitão André Luís

Portando sua carabina

Quando enquadrou João

Foi assentando-lhe a mão

Terminando sua sina

João sem rumo desviou

De levar o pescoção

Parando de frente

Com o valente capitão

Que deu logo a atirar

E o nego a desviar

Com grande perfeição

Quando as balas acabaram

João pode atacar

O capitão apanhou tanto

Que não pode, mas andar.

Os praças que ele levava

Apenas observava

Seu capitão apanhar.

João sem rumo foi

O homem mais procurado

Ate hoje em São Luiz

Tem cartaz espalhado

Oferecendo recompensa

Mas não há quem convença

De ele ser encontrado.

Para o lado do Ceará

Deu-se nova parição

De um negro valente

Conhecido por João

Logo aquele boato

Foi logo espalhado

Por toda a região.

Para o lado do Ceará

Lá não tem brincadeira

Briga lá se resolve

Na base da peixeira

E a nova confusão

Com o valente João

Vai ser com Zé Limeira.

Zé limeira é assassino

Do tipo açougueiro

Com sua faca afiada

Ele vira cangaceiro

É um esquartejador

Pior que um gladiador

Não gosta de forasteiro.

Quando ele ficou sabendo

Tratou logo de procurar

Pelo famoso valentão

Que ele queria brigar

Agora era Zé Limeira

Com sua afiada peixeira

Que João iria enfrentar.

O publico foi formado

Para assistir a briga

Ninguém sabia o porquê

De toda a intriga

Mas muito curioso

Ficaram ansioso

Pra ver aberta uma barriga

João sem rumo chegou

Com uma faca na mão

Já estava ensanguentada

De uma outra confusão

Zé limeira desembainhou

E sua peixeira puxou

Para resolver a questão.

Zé Limeira circulava

Estudando os movimentos

Tinha grande habilidade

Com aquele instrumento.

João golpeou primeiro

Limeira saiu ligeiro

Mostrando entendimento

O publico apreciava

A técnica de João

Limeira tentava acertar

Passava sempre de raspão

João quando revidava

Limeira se desviava

Mostrando aptidão

A luta já passava

Por mais de uma hora

Ninguém estava ferido

Mas isso não demora.

Limeira já cansado

Não dava mais resultado

Tava chegando sua hora.

Limeira pulou por cima

Querendo dar fim a briga

João num golpe rápido

Abriu sua barriga

Caiu víscera pra todo lado

E Limeira coitado

Morreu na mão inimiga.

Esse duelo foi noticia

Que rodou mundo inteiro

Saiu em todos os jornais

Do Brasil ao estrangeiro

Da” peixeirada” de João

Que deu fim a confusão.

E de um antigo cangaceiro.

João sem rumo partiu

Passando pelo nordeste

E foi parar em Teresina

Para o lado do agreste

Onde foi surpreendido

Por um famoso bandido

Valente caba da peste.

Mané de Teresina

Era um frio matador

As brigas de João

Era apenas amador,

Assim a todos dizia

“Topando com ele um dia

Será o fim do brigador”.

Mané de Teresina

Matava sem distinção

Matava por encomenda

Matava a traição

Perverso e malvado

Era filho mal criado

Sem nenhuma educação.

E ele armou uma cilada

Para dar um fim em João

Ele e os comparsas

Colocaram em ação

Um plano maldoso

Muito articuloso

Para matar o negão.

A noite já caia

Quando o nego apareceu

Cinzento feito o cão

E o Mané surpreendeu

Seu plano desarticulado

E o pescoço separado

Foi assim que Mané morreu.

Os comparsas não viram

Oque tinha acontecido

Mas foi assim que morreu

O perigoso bandido

Foi morto a traição

Pelas mãos do João

Que ele foi sucumbido.

Quando João chegou

No estado da Bahia,

Já era o próprio satanás

Que lhe fazia companhia

Matava por brincadeira

Com mesma peixeira

Que usou no primeiro dia

Na Bahia ele teve

Encrenca pra caralho

E com dois capoeiras

Foi o seu atrapalho

Agora o fim de João

Faço aqui narração

E a noticia espalho.

Primeiro ele topou

E quase que deu fim

Num antigo capoeira

Conhecido por Bonfim

Caba bom de cabeçada

Tinha uma boa pernada

Sua reza era o estopim.

Foi na frente do mercado

No centro de salvador

O comercio lotado

Quando a briga começou

Por causa de um colar

Que João veio a quebrar

Quando com Bonfim topou.

Uma roda foi formada

Para ver a discussão

Do capoeira Bonfim

Com o temido João

Quando a briga começou

Bonfim o acertou

Com uma benção.

João sem rumo caiu

Ali no chão sentado

Isso deixou o nego

Muito mais pirado

Indo pra cima de Bonfim

Querendo dar um fim

Naquele pobre coitado

Bonfim fazia mandinga

Quando no chão tocava

João sem rumo irritado

Por Bonfim procurava

Bonfim então percebeu

Onde ele se meteu

Com o cão ele lutava.

A mandinga de Bonfim

Fazia o nego afastar

Bonfim então atacava

Podendo João acertar

Com chute e cabeçada

Era cada uma pernada

Que fez o nego se mandar.

O nego saiu correndo

Pegou a embarcação

Foi pro lado de mar grande

Após tomar sua lição

Mas foi em Itaparica

Onde ele se complica

Com o famoso “Celsão”.

Celso de Itaparica

Conhecido por Celsão

Tem um passado ruim

Repleto de confusão

Hoje vive sossegado

Quer esquecer o passado

Curtindo a sua região.

E foi no cair da noite

Que o nego apareceu

Com a cara toda torta

Preto como o breu

Querendo confusão

E foi logo o celsão

Que o nego escolheu

João tirou da cintura

Desembainhou sua peixeira

A faca era como raio

Vinha muito ligeira

Celso ia desviando

E João lhe atacando...

Quando levou uma rasteira.

O nego caiu no chão

Todo destrambelhado

Com a sua cara torta

O lábio todo inchado

Com a cabeça quebrada

A perna arrebentada

E o nariz quebrado

Abriu-se uma fenda no chão

O nego foi entrando

Entrou todo torto

E sempre resmungando

_Não brigo com capoeira

Não tomo mais rasteira

Saiu ele se rasgando.

Celsão viu de perto

Oque o nego tinha atrás

Era o rabo de seta

O famoso satanás

Que veio ao mundão

Fazer muita confusão

Agora não faz mais.

Se duvidar oque leu

E quiser se aprofundar

Vá lá em Itaparica

Pro próprio Celso lhe contar

Como ele venceu o cão

Falando de antemão

Oque aconteceu por lá.

Ou então vá ao caribé

Na suburbana situado

Chegue lá e procure

Pelo nome afamado

Veras que não mentir

E poderás concluir

Oque foi aqui contado.