Mercador de saudade

Viajei pelo universo

Visitando outro planeta

Depois fiz caminho inverso

Visitando outro cometa

Quando vi um ser diverso

Ser jogado na sarjeta.

Estendi-lhe a minha mão

Para oferecer ajuda

Ele me disse que não

É um seguidor de Buda

Vence com a meditação

Até mesmo a dor aguda.

Eu fiquei admirado

Com tamanha confiança

Porém li no seu cajado

Um pedido de aliança

E fiquei ali parado

Cheio de desconfiança.

Quis pegar o seu cajado

Ele não me permitiu

Disse que mesmo cansado

Seu caminho construiu

Hoje está sendo esperado

Por aquele que partiu.

Perguntei quem era ele

Ele disse ao responder

O maior mestre é aquele

Que conhece o seu dever

Pega tudo que é dele

E doa pra tudo ter.

Recebi essa lição

Mas falei pra responder

Acho estranha essa missão

Tudo dar pra tudo ter

Não tenho compreensão

Para isso eu entender.

Disse então aquele homem

Que eu sou parte do planeta

No lugar que todos somem

Sempre existe algum asceta

Vigiando os que se comem

Com uma grande ampulheta.

Explicou que o nosso tempo

Diferente dos demais

Não alcança o firmamento

Onde vivem os animais

Dos quais nem em pensamento

Aceitamos ser iguais.

Eu fiquei sem entender

Tão profunda explicação

Comecei a perceber

Que estou na escuridão

E então consegui ver

Uma outra dimensão.

Nessa outra dimensão

Vi trabalho pra fazer

Cada um numa missão

De fazer acontecer

Sem haver imposição

Trabalhavam com prazer.

Vi então chegar um mestre

Com a roupa bem passada

Dando ajuda a um pedestre

Que encontrara na estrada

Com a roupa de campestre

E com a mão calejada.

Vi o mestre ajoelhar

E beijar o campesino

Que convidado a sentar

Perguntou pelo menino

Que um dia quis mudar

O rumo do seu destino.

De longe eu reconheci

As palavras do meu pai

Que um dia eu decidi

Que me corrigir não vai

Esse erro eu cometi

Mas da memória não sai.

Perguntei por que aquilo?

Pra que tanto sofrimento?

Tinha esquecido aquilo

Já tirei do pensamento

Alguém disse que daquilo

Eu mereço o pagamento.

Eu entrei em desespero

Sem saber o que fazer

Tentei caminhar ligeiro

Mas fiquei sem entender

Por que não usar dinheiro

Pra pagar o que dever.

Foi então que entendi

Que o lar que eu deixei

Desde o dia que eu saí

La eu nunca mais voltei

Entretanto eu contraí

Dívida que não paguei.

Hoje eu não mais relevo

O que fiz na mocidade

Mas na dívida que levo

Por toda a eternidade

Ganho no viver longevo

Tempo pra vender saudade.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 21/12/2014
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