O MAUSOLÉU E OS DOZE BOIS

Bastante debilitado

E já à beira da morte

Pra não depender dos outros

Entregue à própria sorte

Um grande senhor, idoso,

Resolveu fazer aporte.

Pra fazer seu mausoléu

Chamou toda a família

E fez seu testamento

Deu casa, terras, mobílias.

De fora ficaram uns bois

E um pé de buganvília.

Assim que o velho morreu

Começou a confusão.

Como eram várias filhas

E somente um varão

Este juntou logo os bois

À parte do seu quinhão.

E aos pés do morto disse

Que faria um mausoléu .

Mas o tempo foi passando

Cova foi pro beleléu.

E o dinheiro dos bois

Ficou com filho, incréu.

E a mãe que já morrera

Foi enterrada com seu bem

Numa cova muito simples,

Uma ama-seca também

E com factótum da casa,

Que há muito foi pro além.

A tumba muito pomposa,

Desejo de um moribundo,

Acabou. Com bois do morto

O filho levantou fundos.

Aumentou bem seu quinhão.

Tornou-se rico e fecundo.

Mas o tempo foi passando

Sem a promessa cumprida.

Filho e irmãs se casaram

Família ficou sortida.

O filho só teve filhas,

Que não eram margaridas:

Valentes e bem zoadentas,

De parentesco ofídico.

O filho também feneceu.

E de modo muito acídico

Filhas disseram à dona

Do tal túmulo fatídico:

Agora vamos construir

O túmulo prometido.

Mas para que seja feito,

Terão que ser removidos

Os restos da ama-seca

E dum negro enxerido.

Do outro lado porém,

Havia grande advogada

E prima das jararacas,

Que não se fez de rogada,

E mandou dizer às primas

Que era bem educada,

Também nas suas veias havia

O sangue de jararaca.

Se tivesse confusão

Ela metia o pé na jaca

Da cova as pessoas queridas

Não seriam retiradas.

Que ela ia fazer o túmulo.

E a mancha do pai de vocês

Nunca será retirada.

Túmulo farei num mês.

Pra fazer isso não vendo

Uma galinha pedrês.

Mancha pelos doze bois

Será pra sempre guardada,

Na lembrança da família:

Do velho à garotada.

Quem roubou os bois do pai

Não é digna nem honrada.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

FORTALEZA,DEZEMBRO/2014