A roupa do rei.
Inspirado na fábula do rei nu de Hans Christian Andersen
Numa festa da cidade
O povo se comprimia
Pra ver Sua Majestade
Que também desfilaria
Exibindo a lealdade
Que o povo nunca via.
Todos entusiasmados
Esperavam pelo rei
Não estavam preparados
Para ver o que não sei
Ficaram preocupados
Ao ouvir o que falei.
O rei não aparecia
A rainha também não
Veio a cavalaria
Pra fazer demonstração
Depois a infantaria
Com arco e flecha na mão.
Em seguida os escudeiros
Cada um com o escudo
Logo então os sinaleiros
Que pensavam ter estudo
A seguir os portageiros
Que cobravam sobre tudo.
O povo se amontoava
Para ver a carruagem
Para todo lado olhava
Pra ver a criadagem
Que, entretanto, demorava
Pra fazer sua passagem.
Passou o bobo da corte
O palhaço do salão
Um escravo sob açoite
Com um ferrolho na mão
Ia aproximando a noite
Quando alguém fez um sermão.
No sermão ele dizia
Que o rei era um sábio
Sobre tudo conhecia
Estudou o alfarrábio
Sua roupa mostraria
Para quem fosse mais hábil.
Só os sábios a veriam
Dada a sua beleza
Por isso poucos seriam
Talvez só a realeza
Muitos não enxergariam
Por causa da aspereza.
Todos muito curiosos
Aguardavam pacientes
Em geral muito medrosos
Fingiam estar contentes
Outros mais habilidosos
Já estavam impacientes.
Um soldado apareceu
Com um edito na mão
Para o povo esclareceu
Que na aglomeração
Alguém não reconheceu
O rei com a roupa na mão.
Disse que foi a rainha
Que a roupa preparou
Ela fez tudo sozinha
Vai mostrar o que bordou
E na roupa da rainha
Toda a corte trabalhou.
Nisso apareceu ao longe
Grande cortejo real
À frente seguia um monge
Segurando um castiçal
Sobre uma peça de bronze
Que era assim o pedestal.
Os que enxergavam o rei
Não viam tal roupa finda
Pra mostrar que enxerguei
Diziam: que roupa linda
Mas alguém que eu não sei
Disse que não viu ainda.
Um garoto inteligente
Tentava a roupa enxergar
E de modo coerente
Começou a indagar
Como pode aquela gente
Nada ver e elogiar.
O garoto assim pensou
Acho que estou enganado
Quando o rei aqui passou
Foi por mim observado
Se a roupa não usou
Ele desfilou pelado.
Então resolveu falar
Sobre a sua dedução
Disse não poder calar
Por causa da ocasião
Quem disse a roupa enxergar
Era só tapeação.
O rei estava pelado
Isso era bem real
Tudo que era falado
Era só coisa banal
O rei era um depravado
Esperando o seu final.