UM PAIS CHEIO DE CÃES...

UM PAÍS CHEIO DE CÃES…

Tenho nos últimos tempos acordado com uma sensação suástica na cabeça. Não é nada de suores. Ou é. É uma sensação de desagrado, de impotência, uma “fabril” queda para a desgraça, uma vontade enorme de começar aos pontapés à sogra que não tenho, ir às fúcias a qualquer pedinte que se aproxime com ar de fome bem alimentado e de rosto ucraniano, romeno, preto, amarelo, branco ou que tenha as mãos sujas, que cheire a peixe, ou a pádjóli. É uma sensação que só poderia explicar cientificamente o que desde já ponho de parte por saber que estou a escrever para um povo ao qual pertenço e que conheço de ginjeira, do Manuel da Galega, desde 1142 e que continua a arriscar-se. Não nas caravelas à procura de novas gentes, mas nas ruas à espera de ser encontrado por grupinhos de 10, 20 ou 30 cães raivosos que, com coleira mas sem açaimo, andam por aí a atacar os próprios donos. E não é, que todos nós somos donos desses animais, muitas vezes sem saber que o somos? Só damos por isso quando mordidos. São alimentados por nós e mordem a mão que lhes dá de comer. Que bicharada esta!

No Canadá e em outros países civilizados, que até têm mais cães que nós, quando os bichos se portam mal, aí vão eles recambiados para os canis de origem. Aqui não. Aqui – e para isto basta ir à policia da Quinta da Lomba e consultar as centenas de fotos ao dispor – tratamos estes animaizinhos com a ternura que vem demonstrada na cara dos três pastorinhos aos pés de Nossa Senhora de Fátima mais as ovelhitas com ar estúpido; tal e qual o ar com que ficamos quando damos pelo nosso filho assaltado mesmo nas barbas do café da frente, ou da nossa mãe ao vê-la de cara rebentada e óculos partidos pela canzoada à solta. Confesso que acho estes animais uns amores. São tão iguaizinhos, tão parecidos uns com os outros, vestem-se ou vestem-nos (não estou a ver um cão vestir-se sozinho) de marca e até usam como sapatos uns nikes de última geração. Quem não os acha uns amores, ainda mais com os barretes brancos enfiados nas orelhas? Só pessoas que não amem mesmo animais ou tenham os mesmos sintomas suásticos que eu. E já alguém lhes reconheceu – pergunto eu – a agilidade com que fogem ao primeiro sinal de perigo quando a carrinha de recolha de cães vadios se aproxima? Ah não? Preferem, depois de ser mordidos e irem às urgências dos hospitais, fazer queixa à Polícia, armados em mariquinhas de lágrima no olho: - senhor guarda, está a ver? Fui mordida por 40 cães mesmo ali frente ao mercado, roubaram-me o telemóvel, a carteira, e ainda me levantaram as saias. Quero apresentar queixa mas primeiro queria que o senhor guarda me explicasse para que querem os cães o telemóvel, a carteira, o fio de ouro? Pensando melhor: quero apresentar queixa, mas contra o Governo. Admito que os cães mordam por terem fome – embora tenham bom aspecto – e se admito que passam fome alguém é responsável. Esse alguém somos nós. E nós somos os donos. E quem representa os donos é o Governo, o Estado, ou o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Também quero declarar que na queixa não inclua duas cadelinhas que vieram da Ucrânia, bem bonitas por acaso – e que andam ali pelos Fidalguinhos a ajudar as pessoas a abrir as portas de casa com uma simples radiografia. Dizem que o fazem na ausência dos moradores… mas eu não acredito. Duas cadelinhas daquelas? Até os homens olham para elas como se fossem mulheres! Também não inclua aí aqueles animaizinhos que mostram os seus dotes musicais nos semáforos e que os condutores embasbacados acabam por agradecer entregando-lhes as carteiras com todo o dinheiro e às vezes os próprios carros. Dá graça e é um gesto bonito. Nós, povo poeta, somos muito sensíveis à arte. E cheios de telenovelas baratas e mal cheirosas, quando nos dão um concerto ao ar livre claro que gostamos de retribuir. Nem que essa retribuição seja forçada. Forçada pelo amor à arte, pois. Também quero…

….

Fui agora chamado a atenção por este texto poder vir a ser mal interpretado e verem nele conotações diferentes, interpretações mais latas, e até ofensivas. Aí pára! Nada disso.

A minha intenção é chamar as autoridades à razão para o uso simples da carroça de recolha de animais e fazer desaparecer esses bandos da circulação. Para bem da Saúde Pública. E só.

Sei que há por aí uns rapazolas que fazem umas asneiradas, que roubam os transeuntes, que os agridem etc. etc., mas isso é outro problema que não me compete a mim, simples cidadão ao serviço dos PALOP’s denunciar. Se é que existem mesmo esses grupos. Eu não acredito. Já ouvi umas histórias mal contadas com residência fixa nas passagens do túnel da Miguel Bombarda, mas que me levam a pensar que é o mau cheiro ali existente que gazeia esses queixosos. Uma simples limpeza e tudo correrá bem.

Confesso, por último, que sempre receei cães. Um só não me assusta, nem dois… Agora matilhas, são um problema! E os meus suásticos suores são fruto da mordidela do Ringo, um pastor alemão pertença do meu tio João Ferraz, quando numa noite de consoada e vestido de Pai Natal quis fazer-lhe surpresa saltando o muro da Quinta. Perdoei ao Ringo mas o osso de plástico que lhe levava como prenda acabei por não lho dar. Tenho-o guardado sob o banco do carro. Quem sabe se um dia não terei que dar com ele na cabeça de algum Protector desses Animais?

kirapintor
Enviado por kirapintor em 29/05/2007
Código do texto: T505550