* Vida de urso *
Era um ursinho de pelúcia,
Numa caixa de sapatos acomodado.
Não sabia há quanto tempo
Estava ali fechado,
Nem sabia onde se encontrava
A caixa que dentro estava.
Onde estava guardado.
Estaria em um armário?
Estaria metido num gavetão
Numa cômoda? Na cave?
Num quarto escuro, num sótão?
Quem é que dele se lembraria?
Ursinho de pelúcia nada via.
Tinha problemas de visão.
Ele só tinha um olho,
Mas na verdade não via nada,
Era só porque naquela caixa
Estava uma escuridão danada.
Também pouquíssimo ouvia
Só tinha uma orelha e não podia
Mesmo que desse uma esticada.
Cheirava muito mal ali dentro,
Ele estava muito apertado.
Não podia se esticar nem sentar
Sem que batesse nos lados
Ou na tampa de sua prisão
Já tinha tentado escavação
Mas nada havia furado.
A caixa estava muito bem atada.
Pediu socorro, mas ninguém ouviu.
Por isso, o ursinho de pelúcia,
A maior parte do tempo dormiu.
Que outra coisa poderia fazer?
Ele não dormia por prazer
Mas gostava de sonhar viu.
Sonhava com a sacola do carteiro,
Que o levava a fazer uma viagem.
Às vezes, tinha sonhos maus,
Autênticos pesadelos e miragens:
Aquele da marmita amolgada
Ou do porta-moeda guardada.
Que sempre levava na bagagem.
Quando não conseguia dormir
Para poder sonhar se aborrecia
Naquela velha caixa escura,
Onde ele nada fazia
Um dia, uma menina veio libertá-lo.
Levou-o para casa, para soltá-lo.
Era tudo que ele queria.
A menina instalava confortavelmente
O ursinho na sua almofada.
Depois, pegava um grande livro,
E contava histórias engraçadas.
Era um momento de felicidade
Que adormecia com tranquilidade,
O fim da história não via nada.