COMO SE FOSSE.

Será que eu de concriz

Na tua árvore cantasse

E a mata nem me ouvisse

Somente tu me escutasse

E as minhas penas servisse

Como lenços se abrisse

Tuas resinas enxugasse.

Será que eu de arame

A tua cerca esticasse

E as ramas do chique chique

Em nos dois se enrramasse

Tu sendo um broche de flor

E eu cravejado de amor

O teu cercado enfeitasse.

Será que eu de enxada

O teu roçado roçasse

E uma semente de nos

No solo se germinasse

E uma chuva caísse

E nosso pomar florisse

Pra nunca mais acabasse.

Será que eu de valente

No teu cangaço entrasse

Com meu amor cor de caqui

Tua paixão aumentasse

No eito da madrugada

Não existia emboscada

Que nos dois não enfrentasse.

Tu sendo uma tentação

Eu pecador em aleluia

Tu virgem terra molhada

Eu rigidez de imbuia

Tu goteirinha que pinga

Eu água lá da moringa

Tu o meu banho de cuia.

Tu és o doce da cana

Eu o azedume do umbu

Tu a textura da manga

Eu só nodoa de caju

Tu o monte evereste

Eu alpinista da peste

Doido pra subir em tu.

Olhando pra tu como eu olho

A noite eu faço um apelo

Que um diamante do céu

Somente tu possa te-lo

E uma estrela cadente

Se prenda bem reluzente

Como um broche no teu cabelo.

Imagine nos dois juntinhos

Imagine nos dois casado

Imagine nos dois dormindo

O mesmo sono encantado

Imagine nos dois sonhando

Imagine nos dois se acordando

Sob um ipê bem florado.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 22/11/2014
Código do texto: T5044307
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