COMO SE FOSSE.
Será que eu de concriz
Na tua árvore cantasse
E a mata nem me ouvisse
Somente tu me escutasse
E as minhas penas servisse
Como lenços se abrisse
Tuas resinas enxugasse.
Será que eu de arame
A tua cerca esticasse
E as ramas do chique chique
Em nos dois se enrramasse
Tu sendo um broche de flor
E eu cravejado de amor
O teu cercado enfeitasse.
Será que eu de enxada
O teu roçado roçasse
E uma semente de nos
No solo se germinasse
E uma chuva caísse
E nosso pomar florisse
Pra nunca mais acabasse.
Será que eu de valente
No teu cangaço entrasse
Com meu amor cor de caqui
Tua paixão aumentasse
No eito da madrugada
Não existia emboscada
Que nos dois não enfrentasse.
Tu sendo uma tentação
Eu pecador em aleluia
Tu virgem terra molhada
Eu rigidez de imbuia
Tu goteirinha que pinga
Eu água lá da moringa
Tu o meu banho de cuia.
Tu és o doce da cana
Eu o azedume do umbu
Tu a textura da manga
Eu só nodoa de caju
Tu o monte evereste
Eu alpinista da peste
Doido pra subir em tu.
Olhando pra tu como eu olho
A noite eu faço um apelo
Que um diamante do céu
Somente tu possa te-lo
E uma estrela cadente
Se prenda bem reluzente
Como um broche no teu cabelo.
Imagine nos dois juntinhos
Imagine nos dois casado
Imagine nos dois dormindo
O mesmo sono encantado
Imagine nos dois sonhando
Imagine nos dois se acordando
Sob um ipê bem florado.