A batalha perdida
Eu travei uma batalha
Com um rico fazendeiro
Me chamava de canalha
Disse lhe dever dinheiro
Ele usava uma navalha
Eu usava um candeeiro.
Ele dava soco em mim
Eu porem me defendia
Se eu pensava estar no fim
Ele logo aparecia
Vi que ele estava afim
De fazer estripulia.
Comecei a perguntar
O que tinha contra mim
Ele não queria olhar
Quem lhe indagava assim
Com a navalha a mostrar
Queria dar fim em mim.
Eu lhe dei uma rasteira
Ele então caiu no chão
Eu sentei numa cadeira
Estendi-lhe a minha mão
Disse que era besteira
Brigar com a solidão.
Ele disse não querer
Saber de falar comigo
Dele não vou receber
Um presente de amigo
E que eu poderia ser
Um safado e inimigo.
Eu lhe disse: sou safado,
Mas você é bem pior
Eu estou desempregado
Mas não furto o bem maior
Você é afortunado
Mesmo assim é o menor.
Você pode ser lembrado
Pela fortuna que tem
Mas jamais será citado
Por ter praticado um bem
Morrerá abandonado
Por não ter amado alguém.
A fortuna que tu levas
Foi tirada de alguém
Você anda só em trevas
Nem um candeeiro tem
Mesmo com vida longeva
Você vai morrer também.
Ele então se assustou
Disse que sou feiticeiro
Sua vida fracassou
Mesmo com tanto dinheiro
E assim continuou
A falar o tempo inteiro.
Disse que estava com pressa
Precisava retornar
Eu estava com conversa
Seria melhor calar
Se a minha vida era essa
Então fosse enfeitiçar.
Eu lhe disse que iria
Um feitiço praticar
Na criança que viria
Assistir alguém brigar
Ali mesmo eu poderia
Fazê-la se machucar.
Ele disse: seu covarde,
A criança não tem culpa
Já está ficando tarde
Pra esta conversa estulta
Pare de fazer alarde
Venha logo para a luta.
Eu lhe disse: vou lutar
Porem antes vou fazer
Um feitiço pra amarrar
A mulher que quero ter
Vou com ela me casar
No meu lar eu vou viver.
Um despacho eu vou fazer
Pra ninguém me atrapalhar
Quem não me obedecer
Vai comigo enfeitiçar
E pra quem me aborrecer
Sete anos de azar.
Ele disse: vou contigo
Quero ver essa mandinga
Você não é meu amigo
Não pode ser meu curinga
Sei que sou seu inimigo
Mas sua voz não catinga.
Vamos logo pro terreiro
Quero ver essa mutreta
Vou passar no galinheiro
Pra comprar galinha preta
Comigo levo dinheiro
Para dar para o capeta.
Eu lhe disse: companheiro
Nada de levar galinhas
Guarde todo o seu dinheiro
Esqueça as palavras minhas
Há um universo inteiro
Pra se ler nas entrelinhas.
Vamos simplesmente ver
Um lugar que a fé irmana
Onde pode aparecer
A rainha e a mucama
E também quem tem sofrer
Mas da dor nunca reclama.
Pode estar a fazendeira
Que negou um simples pão
Pode estar uma rameira
Que doou o coração
Pode estar a cozinheira
Que alimenta o seu irmão.
É lugar onde a saudade
Passa a ter explicação
Onde entra a caridade
Sem qualquer ostentação
Onde a capacidade
Sempre encontra ocupação.
Ele disse: por favor,
Me perdoe, eu quero ir,
Não aguento tanta dor
Não consigo mais mentir
Eu preciso de amor
Essa paz quero sentir.