Frei Dimão reza as breves com Kathie, que responde
Ao sonoro badalar
do sino da igrejinha
venho na matina te convidar
pra rezarmos a ladainha
Se a noite em claro passaste
fizeste um mal assaz
algum coração roubaste
e não te poupou o sacanás
Ele nunca se satisfaz
e precisa ser combatido
provocador contumaz
até no amor é bandido
A ele jamais te entregues
e saibas que ando de olho
mas ovelhinha não me negues
quando provares meu molho
Ele é santificado
dá mais fiel pureza
livra-te do pecado
embora de língua tesa
Tenho uma boa nova
graças ao pontificado
pois Papa Xico me renova
os votos de santo prelado
No púlpito vou subir
pra esta nova proclamar
minha batina irás cerzir
pra algum buraco tapar
Farei sermão bombástico
pra infundir corações
combatendo o que é orgiástico
e dirimindo senões
Meu cajado brandirei
contra toda ignomínia
teu pecado tirarei
tua volúpia, domine-a
Quanto à tua castidade
dar-lhe-ei abrigo e proteção
com cadeado de verdade
desses de segurar leão
Evita a promiscuidade
e também a devassidão
conta com este frade
que vive em contemplação
Minha vela que bem conheces
é do mais puro espermacete
reza com ela mais preces
e evita talhar-te com gilete
A levitar me fizeste
com teus rasgados poemas
agora, te sugigo, agreste
e espero que de gozo gemas
Teu gozar repentino
é bastante salutar
tem coisa de divino
tem também de secular
Agora reza comigo
o resto desta matina
e se a cochilar sigo
arregaça minha batina
E para o ar correr
e pra alma arejar
e se o sangue ferver
a cobra irá fumar
De Monay, tomada de fé, bota o coração de pé:
Rezarei fervorosa a ladainha//
E o frei sobe na pedra de pedro\\
E nesse ensejo vou de sainha//
E depois a gente faz o enredo\\
Passei a noite em claro//
Comendo um bom ananás\\
Mas agora eu declaro//
Que quase furei os anais\\
E para um bom combate//
É só chamar o amado Batista\\
Além de dar-me o mote//
Me trepa e diz: tu és equilibrista?\\
Com o frei me sinto segura//
Provo do molho e da pimenta\\
Depois vou para a clausura//
E o santo me alimenta\\
Santificado seja com a batina//
Da-me teu alívio eu necessito\\
Mas não rasgue a meia fina//
Me deixe na língua do Brazílio\\
A boa nova já me deste//
Foste fiel e também renovei-me\\
Mas dei pro Romeu, aquela peste//
E agora, estrepei-me\\
E no oratório não embromas//
Faça a tu santa homilia\\
Mas nada de rasgar a fronha//
Posto que sou tua santa filha\\
E ouvirei bem contrita//
Depois de tanta devassidão\\
Não mostrarei a periquita//
Abro a gaiola e deixo-a na mão\\
Teu cajado abriu o mar vermelho//
Foste aquele abençoado\\
Coloca-me no teu relho//
Para que eu aprenda no teu traçado\\
Quero ficar no coliseu//
Dando água pros os leões\\
E de quebra com Ptolomeu//
O frei coçaria os meus pés?\\
Você é o melhor das criaturas//
Me livra de toda devassidão\\
Depois me dá toda dura//
Dizendo que ando com cramulhão\\
Rezo na tua vela santificada//
E deixo a cera a lamber-me\\
Posto que sou tua ovelha amada//
E a derreto no meu corselete\\
Meus poemas são rasgados//
Na tua santa procissão\\
Queira então ao menos regá-los//
Antes que cause mais turbação\\
Sou tua santa gozosa//
Levo-te aos céus, como explicar?\\
E mostro a batina airosa//
Não deixe-me de salpicar\\
Arregaço tua batina polida//
Mas não cochiles, fique atento\\
Antes mesmo dessa batida//
Que posso sentir o teu vento\\
E se a cobra irá fumar//
Também dou o meu cigarro\\
E se o frei irá bufar//
Dá-me o teu santo esporro?\\