O TIGRE SEM DENTES
Numa floresta encantada
De um reino que eu não sabia
Vivia um tigre aloprado
Que fremia noite e dia
E todos tão preocupados
Andaram assaz assustados
Sem levar vida vadia
A fera que andava solta
A tudo bem dominar
Inventou uma tal de ‘regras’
Pra tudo modificar
Sem licença ou permissão
Da cobra ou do mico-leão
E queria assim mudar:
Era macaco sem rabo
Girafa sem perna e pescoço
Elefante sem a tromba
Veado roendo osso
E tudo pra completar
Pra floresta azucrinar
Escute bem o que ouço
Queria uma onça listrada
Uma zebra toda preta
Parecia que o tigre
Possuído por capeta
Não parava de falar
Queria até transformar
O velho sino em sineta
A lagoa ficou seca
Todos queriam fugir
Com medo do tigre louco
Que insistia em rugir
Confundido na questão
No meio da falação
Fazia até cão mugir
Fez uma cobra ter asas
Jacaré comer banana
Rinoceronte sem boca
João se chamando Ana
Fez uma anta sem mão
Até sem juba o leão
E grama virar savana
O tigre era incansável
Dava tanta opinião
E ai de quem falasse dele!
Vinha com pedra na mão
Ofendia o postulante
E o seu acompanhate
Botava todos no chão
Passaram-se muitos anos
Com esse tigre a ameaçar
A todos sem distinção
Só querendo transformar
Falava o que não sabia
Não sabia o que queria
Mas tudo queria mudar
Mas um dia descobriram
E espalharam pra cidade
Que o tigre era um demente
Não sei da veracidade
Só sei que a todos mentia
Escrevendo noite e dia
Sem ter credibilidade
Assim voltou paz no reino
Uma paz que finalmente
Era ameaça sem medo
E festejaram contentes
Pois tudo que o tigre dizia
Dizia, mas não fazia
O tigre não tinha dentes!...
© Fernando Tanajura