QUE SÓ LEMBRO NO RETRATO DO MEU AMADO SERTÃO.
Manoel cruzou o sol
Num rasgo mais amolado
Quando caiu arrebol
Senti corpo laminado.
Então eu vi Severina
Cruzar o Capibaribe
Como soldado na sina
Que a guerra com fel inibe.
Depois vi o Conselheiro
Na frente da multidão
Levantava o vermelheiro
E inundava o Sertão.
Tinha verso e cantoria
Tinha folguedo e paixão
Um rastro de poesia
Viola, rima e canção
Mas tinha um cheiro de mato
Que só lembro no retrato
Do meu amado Sertão.
De longe ouvi Virgulino
Acordando madrugada
Da igreja ouvi Silvino
E fugia em disparada.
Cancão pintando miséria
Em uns cabrabestalhados
João Grilo passando a perna
Em rico e pobre coitado.
Senti o cheiro do chão
E a semente não vinga
Foi rastro de solidão
E fumaça na Caatinga.
Tinha verso e cantoria
Tinha folguedo e paixão
Um rastro de poesia
Viola, rima e canção
Mas tinha um cheiro de mato
Que só lembro no retrato
Do meu amado Sertão.
Boa Vista, 26 de setembro de 2014.