CORDEL – Mote – Somente tenho saudade – Do que cobre essa cueca – 20.09.2014
 
 
CORDEL – Mote – Somente tenho saudade – Do que cobre essa cueca – 20.09.2014
 
 
 
Numa cidade sertaneja, de gente modesta, falecera um fazendeiro de nome Raimundo, com alcunha de “Tesudo”, que era tido como “cachorro da moléstia”, porquanto quem com ele passasse uma noite jamais o esqueceria, não somente por seu costumeiro carinho como e principalmente pelo seu dote arrasador. Que o dissesse a dona Florentina, a viúva. Era um sujeito bom na pegada, diferentemente do nome de sua cidade, tal de Só Uma e Tá! Sua mulher chorava copiosamente, sendo acalentada pelas senhoras que estavam no velório, que pediam por demais para que ela não derramasse tantas lágrimas. Ela não cansava de dizer com aquele jeitinho que lhe era peculiar: “Somente tenho saudade do que cobre essa cueca”, e apontava com o seu indicador. A risadaria era geral.
I
Essa história ganhou mundo
Conhecida por demais
Com tal enredo profundo
Ninguém esquece jamais
Aqui não tem falsidade
Por mentira nunca peca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
II
Seu Raimundo era querido
Por todos da região
Um sujeito divertido
Detinha bom coração
Por isso tinha amizade
Todo levado da breca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
III
Namorador pra valer
Sabia bem conquistar
Muito mais como fazer
Sabia bem enrolar
Tinha grande agilidade
No joguinho de peteca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
IV
Apontando a direção
Para qualquer convidado
Às vezes tocava a mão
No maldito encaixotado
Mas com muita acuidade
Pensando na perereca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
V
Através daquele vidro
Que encobria o caixão
Cujo brilho bem polido
Virou uma sensação
Pois não cobriu de verdade
Uma parte da careca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
VI
Então virou alvoroço
As damas bem curiosas
Ao verem aquilo grosso
Mole mas dando prosa
Em casa sem liberdade
Tratadas como boneca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
VII
Valei-me São Benedito
Falavam as esquecidas
O meu marido é maldito
Estamos desassistidas
A pura fatalidade
Duma fêmea bem sapeca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
VIII
Eu nem queria falar
Das conquistas desse moço
Era homem pra lascar
Mesmo carne de pescoço
Mas tinha sua humildade
Era craque na rabeca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
IX
A irmã da Florentina
Sandrina boa e gostosa
Até cumpriu sua sina
Fez com ele um mar de rosa
De total felicidade
Quem é esse que não peca?!
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
X
Então por baixo do pano
Queriam divertimento
Nada de entrar pelo cano
Ou mesmo de casamento
E por casualidade
Entraram na discoteca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
XI
Ela boa dançarina
Gostava dum rela bucho
Rodava como menina
Bem no meio do cartucho
E sendo maior de idade
Uma matuta rebeca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
XII
Mas tinha uma grande amiga
Garota bela e saudável
Luxuosa rapariga
De trato demais afável
Que com pura habilidade
Morando lá na charneca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
XIII
Que também entrou na dele
Com tamanha animação
Que macho bom era aquele!
Um ponto de exclamação
Que tanta virilidade...
Sem tirar uma soneca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
XIV
E dava uma, duas, três...
Quatro horas da manhã
Tesudo um bom freguês
Já rondava sua irmã
Com muita sagacidade
Dentro da sua lojeca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
XV
Mas essa tal dita loja
Muito bem organizada
Vendia tudo até soja
E era bem frequentada
Bem perto da faculdade
Junto da biblioteca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
XVI
 
Até que a gata caiu
Nos laços daquele papo
E de repente se abriu
Apelou pro guardanapo
Tal era sua vontade
Da carência dona “Teca”
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
XVII
Então mais um quebra galho
Surgira na sua vida
Uma sorte do caralho
Excitação incontida
E com que suavidade
Ela alisava a careca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
XVIII
Eita sujeito sortudo
Pois nem bonito não era
Só sei que muito peitudo
Sua vida uma quimera
Nada de fragilidade
Nem sequer uma enxaqueca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
XIX
A Vera ficou bochuda
Não seguiu sua tabela
Tive pena da rabuda
Que no fundo muito bela
Melhor dizendo beldade
Ali perto da loteca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
XX
Mas aqui vou terminando
Tesudo foi enterrado
E nas terras germinando
Presente noutro roçado
Pois sua fertilidade
Divulgou a fototeca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
XXI
E terminado o velório
Cada qual pra sua casa
O Tesudo era simplório
Mas sempre mandava brasa
Viúva com lealdade
Falou na biblioteca
Somente tenho saudade
Do que cobre essa cueca
 
Ansilgus
 
Qualquer semelhança será mera coincidência.
 
ansilgus
Enviado por ansilgus em 23/09/2014
Reeditado em 27/09/2014
Código do texto: T4973441
Classificação de conteúdo: seguro
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