O grito da solidão.
O gritar da solidão
É a parte do fazer
Que pertence ao coração
Pra expor o seu sofrer
E não vê humilhação
Nessa dor reconhecer.
É agir como a saudade
Que não sabe o que é prazer
Nunca dá prioridade
Àquilo que vai fazer
E não vê humanidade
No seu cômodo viver.
É fazer como a virtude
Cuja força é a paciência
Mesmo com pouca saúde
Sabe expor a sapiência
Com tanta magnitude
Usa a sua consciência.
Não permite que o argumento
Ultrapasse a sensação
Sabe usar o seu momento
Aguardando inspiração
Que vem sempre lá de dentro
Do fundo do coração.
Esse é aquele grito
Que não passa na garganta
E como um sofrer bendito
Mas que bem pouco adianta
Preferiu ser um desdito
A seguir estradas tantas.
Nunca sabe o seu destino
Sempre vai ao cadafalso
Se enforcar em fio fino
Que todos sabemos falso
Mas de si perdeu o tino
Sem fugir do próprio laço.
Se gritar de amor não dói
O calar também é bom
A palavra só constrói
Se o falar vier do dom
De quem sempre o mal destrói
Se negando a fazer som.
O gritar da solidão
Não é fonte de prazer
Nunca foi ingratidão
Ele assim reconhecer
Pois em cada coração
Há um pouco de sofrer.
Esse grito não é longo
Muito menos coisa rara
Quase nunca faz estrondo
Pois na alma sempre pára
Se aos poucos vamos pondo
Bom remédio, logo sara.
Solidão nunca tem peso
Mas é duro carregar
É como um farol aceso
Que não se pode apagar
Se livrar dele é defeso
Pois em nós é o seu lugar.
Entretanto a solidão
É pra quem está sozinho
Mesmo andando em multidão
Seguindo o mesmo caminho
É querer consolação
Na coroa de espinho.
Veja bem que a solidão
Está sempre em mais de um
Quando há ingratidão
Pode estar com qualquer um
Entretanto a mansidão
Deve estar em cada um.