A saudade.

A saudade é uma carga

De peso muito elevado

Como carga é sempre amarga

Um fardo mal amarrado

Muito difícil a descarga

Pois pertence ao ser amado.

Difere do amor de filho

Como também do irmão

Nesses há um estribilho

Que sabemos de antemão

Mas não há aquele brilho

Que vem lá do coração.

Não se acaba entre os amigos

Que com ela estão também

Faz em todos o seu abrigo

E em todos se detém

Mesmo sendo algo antigo

Cada um em si a tem.

Faz caminhar sem destino

Nesse vai-e-vem sem fim

Faz querer o matutino

Para pôr na noite um fim

Faz sofrer com o vespertino

Que vai pôr no dia o fim.

É fuga pro solitário

Que se esconde no trabalho

Que alguém chama de otário

Mas é sempre um quebra-galho

Sempre vai ao campanário

Que pra Deus é o seu atalho.

A saudade é uma força

Que a muitos acorrenta

Mesmo que alguém a torça

Quase nunca ela arrebenta

É tal qual menina-moça

Que com nada se contenta.

O silêncio é a saudade

A gritar na própria alma

Sempre esconde a vaidade

Pois essa não lhe acalma

Se houver calamidade

Vai agir sempre com calma.

É a dor que dói mais fundo

É o gritar do coração

Se sentindo só no mundo

Como preso em um porão

Se sentir no fim do mundo

Mesmo estando em seu torrão.

Ela não sabe o que quer

Sempre diz que nada quer

Nada aceita se lhe der

Nada quer se lhe vier

Deixe-a aonde estiver

Não abrace essa mulher.

É um soluço sem raiz

Passo em falso que nós damos

É fazer o que não quis

Retomar o que entregamos

Mais parece uma perdiz

Amarrada em vários ramos.

Como amiga passageira

Pode dar o bem-estar

Ela sempre é a primeira

Ao solitário encontrar

Vai ser sua companheira

No momento que chorar.

A saudade é uma chave

Que fecha a porta do céu

Pro viver é um entrave

Pois nos põe andando ao léu

Pode às vezes ser suave

Mas amarga como fel.

A saudade apavora

É presente a todo instante

Aparece a qualquer hora

Faz sofrer e segue adiante

E somente vai embora

Se lhe der amor constante

Pode ser a companheira

Do palhaço ensandecido

Pode estar com a rameira

Cujo amor sempre vendido

Pode ser grande barreira

Do amor não correspondido.

Pode ser também a dor

De alguém que se perdeu

De quem muito deu amor

A alguém que já morreu

Certamente é um lavor

Pro poeta que escreveu.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 20/09/2014
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