BRASIL COM "S", CURVAS DA CIDADANIA - A ORIGEM

I
Não é coisa de saudade

Revirar tempos passados.
Nostalgia, também não!
Por lá ficaram guardados
Amigos, entes queridos,
E um monte de “babados”.

II
Num rolê pela história

Encontra-se o matiz
Do arco-íris político
A reluzir a raiz.
No panorama vigente
Para ser cidadão, diz.
 
III
Não é pra ficar sentado

Acabrunhado num canto
Infeliz e deprimido.
É despertar do quebranto
Na rua soltar a voz
Pra desfazer tal encanto.
 
IV
Nos livros investigar

O veio da bruxaria.
Para na força do voto
Por fim à velhacaria.
Sem briga, sem desaprumo,
Desterrar a vilania.
 
V
Partindo bem do início

Pra ninguém ficar perdido
Do verso perder a rima
Na leitura, distraído:
É história do Brasil
Assim está deferido.

VI
Na calmaria dos ventos

Cabral passava ao largo.
Do Brasil nada queria,
Mas um vento sem encargo
Sopra as velas pra Bahia:
Cais seguro sem embargo.
 
VII
Sobre tã
o fértil mentira,
Espanhol é testemunha.
Nasce o Brasil com “S”
Desde logo se rascunha
Estórias pra boi dormir
Ou voar, Nassau supunha.
 
VIII
Naquela terra Tupi

Não morava pele branca.
Todos de cara pintada:
Indígenas de alma franca
No arvoredo sentados,
Sossegados sem retranca.
 
IX
No desembarque maneiro

Nenhuma flecha lançada.
Espelhos e bugigangas
Repartidos pra cambada.
Disfarçada de mesura
A propina foi criada.
 
X
Para colocar Jesus

Na historinha contada
E fazer índio rezar.
A missa foi celebrada
Em latim bem cristalino
Pra tribo só na toada.

XI
Naquele Brasil com “S”

Só um bispo se deu mal.
Tinha nome de sardinha
Saboroso animal.
Do mar já vem temperada
Pra mesa do comensal.
 
XII
Nem mesmo a tal fritura

Assustou a tribo lusa.
À procura de riqueza
Não tinha hipotenusa.
Ziguezagueando rios
De cima abaixo, intrusa.
 
XIII
Ouro, pedras preciosas,

Lenha, cana pra cachaça.
O índio dono da terra
Vivo, foge e rechaça,
Da escravidão escapa.
O negro cai em desgraça.
 
XIV
Pateta índio não era

Pra mata se debandava.
Os lusos desesperados
Na mãe África pegava
Peão escravo no laço
E pro Brasil embarcava.
 
XV
Petardo de megatons

A cruza estava pronta.
Três raças num só pavio:
No cativeiro a afronta
Pra Portugal o quinhão
A tribo nem faz de conta.
 
XVI
Melhor é saltar pra frente.

Essa trama deixou marca
Porém, remédio que cura.
É tempo que a dor abarca.
Mas nunca ficar calado
Pra aquele que nos encharca.
 
XVII
Mil oitocentos e sete:

Na peleja Brasil-Lusa
Só português arbitrava.
Corte posava de musa,
Bem vestida em pele d’ouro,
A gente daqui, reclusa.
 
XVIII
O
baixinho Bonaparte
Napoleão dos fricotes
Pra gente deu grande força.
Dom João partiu em botes
Fugindo pra Salvador
Chegando lá de malotes.
 
XIX
Com o Rei em terra firme

Os portos foram abertos.
Mal acabou de chegar
Os lusos muito espertos
Seu rei chamaram de volta
Nos deixando descobertos.
 
XX
Dom João com nove filhos

Um decide empregar,
Príncipe Pedro Primeiro.
Pra regência semear
Semente de Nepotismo
No Brasil desabrochar.
  
XXI
Pedro não se fez rogado.

- Digam ao povo que fico!
Ás margens do Ipiranga
- Para Lisboa comunico
- O Brasil independente
- E, meu cargo ratifico.
 
XXII
Depois Dom Pedro Primeiro

Renuncia pra seu filho
Rapazola de seis anos.
O parlamento caudilho
Reveza-se na regência
Do encorpado rastilho.
 
XXIII
Com mais dez anos à frente

Pedro Segundo assume
Por quase cinquenta anos
Permanecendo no cume.
Foi vento de calmaria
Rede pra pouco cardume.
 
XXIV
O fim da escravidão

Vira maré de revolta
Milicos e fazendeiros
Promovem reviravolta
Derrubam a monarquia
A corte parte sem volta.
 
XXV
Sobre
um pangaré molengo
Deodoro vocifera
- Proclamação da República.
- Saibam, sou eu quem opera:
- Agora sou presidente
- Constituinte já era.
 
XXVI
Para fechar a lambança:

Donde vem a “carteirada”?
O chato do fura fila?
Em Salvador apontada
Nas filas dos chafarizes
Por escravos praticada.
 
XXVII
- Vá num pé pra voltar noutro

- Não vá ficar em fileira
Recomendava seu dono:
- Mostre a minha carteira
- Sou marquês estou na corte
- Depressa, não dê bobeira.
 
XXVIII
Agora segue resumo:

De tudo que foi contado
Descoberto sob mentira,
Clã nativo sossegado
Que trocou seu chão por tralha
E viver de pé rapado.
 
XXIX
Mas inda segue cativo

Ao chicote do senhor!
E não depende de pele
Seu sofrer imolador.
Nem mesmo estar por cima
Ser presa, ou predador.
 
XXX
Tem bronco de todo porte,

Na bronquice multicor:
Gente pobre, também rica,
Remetendo ao Salvador,
A remissão de suas almas
Indo daqui devedor.