O vendedor de ilusões.
Se eu vendo ilusões
De mim sou também cliente
Quando há desilusões
Dessas eu fui o agente
Nessas vãs contradições
Sou comigo coerente.
Tenho o coração partido
Pelas dores que carrego
Muitas vezes um maldito
Sem pudor, isso eu não nego
Todavia o que foi dito
E o fardo que eu entrego.
Só um triste condenado
Poderá saber dizer
O que é ser violentado
No que se propôs fazer
Serem um tronco amarrado
Sem mesmo o porquê saber.
Só quem sabe ser cordeiro
Que aprendeu o que é amar
Trabalhando o dia inteiro
Sem à noite descansar
Conseguiu ser violeiro
Tendo a noite pra rimar.
Levo a sorte no meu fardo
Ponho a carga no ginete;
Tenho a fama de bastardo
Sobre a pele um vil sinete
Como a noite o sol aguardo
Pra de luz ser um filete.
Tive a sorte de vender
Meu bornal e meu farnel
Sem querer compreender
Vendi capa e o chapéu
Mesmo assim não pude ter
Uma noite em um hotel.
Sempre fui bom capataz
Mas não tive paciência
Pro trabalho fui capaz
Mas de pouca sapiência
Porém sempre fui sagaz
Pra vender com competência.
Se a sorte chega a todos
Quase sempre nos engana
Chega sempre com engodos
Parecendo ser bacana
Pode nos deixar no lodo
Sendo assim uma sacana.
O dever do vendedor
É deixar freguês contente
É também duro labor
Só pra quem é persistente
É trabalho de valor
Convencer o resistente.
Pode estar aborrecido
Ou cansado de sorrir
Pode ser mal recebido
Se ao cliente vai ouvir
Se o freguês faz um pedido
Seu salário vai subir.
Todas as desilusões;
Que se passam em um balcão
São tenazes frustrações;
Que estão no coração;
Que ante as decepções;
Já não tem satisfação.
Faça o fogo do amor
Aquecer seu coração
Nunca negue algum favor
Não transforme em mau carvão
O que está no seu calor
Sob a forma de clarão