O vendedor de ilusões.

Se eu vendo ilusões

De mim sou também cliente

Quando há desilusões

Dessas eu fui o agente

Nessas vãs contradições

Sou comigo coerente.

Tenho o coração partido

Pelas dores que carrego

Muitas vezes um maldito

Sem pudor, isso eu não nego

Todavia o que foi dito

E o fardo que eu entrego.

Só um triste condenado

Poderá saber dizer

O que é ser violentado

No que se propôs fazer

Serem um tronco amarrado

Sem mesmo o porquê saber.

Só quem sabe ser cordeiro

Que aprendeu o que é amar

Trabalhando o dia inteiro

Sem à noite descansar

Conseguiu ser violeiro

Tendo a noite pra rimar.

Levo a sorte no meu fardo

Ponho a carga no ginete;

Tenho a fama de bastardo

Sobre a pele um vil sinete

Como a noite o sol aguardo

Pra de luz ser um filete.

Tive a sorte de vender

Meu bornal e meu farnel

Sem querer compreender

Vendi capa e o chapéu

Mesmo assim não pude ter

Uma noite em um hotel.

Sempre fui bom capataz

Mas não tive paciência

Pro trabalho fui capaz

Mas de pouca sapiência

Porém sempre fui sagaz

Pra vender com competência.

Se a sorte chega a todos

Quase sempre nos engana

Chega sempre com engodos

Parecendo ser bacana

Pode nos deixar no lodo

Sendo assim uma sacana.

O dever do vendedor

É deixar freguês contente

É também duro labor

Só pra quem é persistente

É trabalho de valor

Convencer o resistente.

Pode estar aborrecido

Ou cansado de sorrir

Pode ser mal recebido

Se ao cliente vai ouvir

Se o freguês faz um pedido

Seu salário vai subir.

Todas as desilusões;

Que se passam em um balcão

São tenazes frustrações;

Que estão no coração;

Que ante as decepções;

Já não tem satisfação.

Faça o fogo do amor

Aquecer seu coração

Nunca negue algum favor

Não transforme em mau carvão

O que está no seu calor

Sob a forma de clarão

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 14/09/2014
Código do texto: T4961297
Classificação de conteúdo: seguro