CONVERSA DE CACHACEIRO
A vizinha lá de casa,
Que há poucos dias é crente,
Vive de me encher o saco,
Mais do que qualquer parente.
- Se livre dos belzebus,
Meu filho, aceite Jesus,
Dando uma de mãezona...
Mas eu, já embriagado,
Respondo logo arretado:
- Ele não me adiciona!
Por que é que você bebe?
Me perguntou outro dia.
- Eu bebo porque é líquido
Se fosse sólido eu comia...
E ela, com cara de espanto:
- E precisa beber tanto?
Eu respondi sem ofensa:
- Só bebo socialmente,
Mas eu tenho atualmente,
Vida social intensa.
- Mas não bebo tanto assim
Como você quer dizer.
Bebo seis meses por ano
E passo seis sem beber.
- Deixe de ser descarado
Você vive embriagado
Não passa de um beberrão.
- Mas não bebo doze meses,
Já lhe disse várias vezes:
Eu bebo um dia’outro não.
- Você bebe todo dia!
Inda me fala besteira?
Eu disse é mentira sua,
Só bebo em dias de feira...
Bebo de segunda a sexta.
No “sábo”, que não sou besta,
Vou pra feira de Condado.
No domingo, o dia inteiro,
Eu sou mais um cachaceiro
Lá no box do mercado.
- Você bebe muito álcool,
Vive tombando na praça.
- Eu não bebo álcool, não!
Só quando não tem cachaça.
- Você é “bebo” nojento,
Cheira à cana, fedorento,
Ô homem desmantelado!
- E você é muito feia.
Fico assim de cuca cheia,
Mas amanhã tô curado.
- Você vai findar morrendo,
Pois tá bebendo demais.
Eu disse: é engano seu
Porque eu não bebo mais.
- Você bebe pra lascar
E ainda quer me enrolar
Com essa barbaridade?
Respondi: preste a atenção,
Não tô bebendo mais não,
Bebo a mesma quantidade.
Por que você bebe tanto,
Se isso é tão esquisito?
Eu lhe respondi na bucha:
- Bebo pra ficar bonito!
Quand’eu chego bom em casa
A minha mulher me arrasa,
Pois não me dá nem um grito.
Mas s’eu chego embriagado
Ela me olha de lado
E logo me diz: bonito!
Certa vez lhe perguntei,
Já naquele cai não cai:
Quando a gente toma umas,
Pra onde é que a cana vai?
- Pra que a gente se esmoreça
Vai do bucho pra cabeça,
Ela respondeu na hora.
Mas ouvindo o que eu ouvi,
Eu logo lhe respondi:
Não vai não, minha senhora!
Quando não estou em casa
E um amigo me procura,
Minha mulher, irritada,
Já responde sem brandura:
Se’le não está contigo,
Deve estar com algum amigo,
Como toda vez que sai.
Tá nessa vida mundana,
Enchendo o rabo de cana...
- É pra lá que a cana vai!!!