A SAGA DOS ROCHA'S NO MUNDO DE MEU DEUS

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Amigos eu vim contar

Uma história verdadeira

Pode ser que acreditem

Pode ser que não queira

Mas o que for mentira

Pode ser pura besteira

Tem pessoas esquisitas

Cada qual com sua mania

Umas dormem toda noite

Outras dormem todo o dia

Algumas delas nem dormem

Têm uma vida bem vadia

Tem um pai que é seu fofo

Tem uma mãe fofinha

Tem um filho que é louco

Tem a filha maluquinha

Tem o filho que é tantão

Tem a filha que é burrinha

Vou falar de cada um

De todos eu falarei

Vou contar os segredos

Dizer tudo que eu sei

Podem até me bater

Seus podres entregarei

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Já passaram por perrengues

Sofreram muito na vida

Quando lembram o passado

Choram muito as partidas

Com tudo o que passaram

Eles estão juntos ainda

Nos dias mais difíceis

A comida era farinha

Preparavam a farofa

Com sal e pimentinha

Faziam bolo de chuva

Eles comiam o que tinha

A diversão era a laje

Nas noites com a batida

Com o som lá na calçada

Curtiam muita a vida

A casa cheia de amigos

Galera doida e varrida

Sempre trepados em árvores

Na mangueira e amendoeira

Caçavam “biquin” na mata

Com visgo e atiradeira

Pulavam o valão na ponte

Faziam muita besteira

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Um dia fofinho caiu

De bem alto e machucou

O pescoço ficou roxo

A coluna engessou

O dinheiro não chegava

A comida acabou

Subiam na cajazeira

Comiam cajá com sal

Comiam até as folhas

Eles não passavam mal

Caçavam até rolinha

E assavam no quintal

O pai tinha esperança

Que isso tudo ia passar

Dizia ele todo dia:

“- As coisas vão melhorar

Eu logo vou ficar bom

E comida vou comprar

A mãe desesperada

Vendo seus filhos sofridos

Mandou todos para casa

Dos avós muito queridos

Lá eles matavam a fome

E ficavam bem nutridos

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Mas dos quatro rebentos

Uns deles não ia não

Ficava com a sua mãe

E segurava em sua mão

- mamãe aqui eu vou ficar

Vamos procurar um pão

Procurou por todo canto

E ele nada encontrou

Abriu todos os armários

Nem um farelo sobrou

Quando abriu a geladeira

Ele então se espantou

Lá no canto, tão sozinha

Disparou seu coração

Estava tão geladinha

Era um milagre então

Ele pegou a cebola

E mordeu com emoção

E a pobre da cebola

Virou logo refeição

Dividiu com sua mãe

Com sofrer no coração

E com olhos marejados

Pediu graça em oração

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Com o tempo as coisas

Melhoraram de montão

O dinheiro foi chegando

E a comida no fogão

E a heroica cebola

Sempre é lembrada então

A fofinha da mamãe

Sempre viveu pra família

Cuidava dos quatro filhos

Fazia arroz com ervilha

Parecia uma loba

Cuidando da sua matilha

Irmã de muitos irmãos

Adorava mãe e pai

Tinha irmão de todo tipo

Dos que” fica” dos que “vai”

Sempre foi a mais sofrida

Quase nunca teve paz

O seu pai viu ir embora

Viu irmãos desencarnar

Alguns ainda estão aqui

Outros moram em outro lugar

Ela cuidou de sua mãe

Até seus olhos fechar

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Até hoje trata os filhos

Como se fossem criança

Vive ainda com o marido

Seu fofinho de la pança

Ainda cuida dos netos

Dança conforme a dança

A irmã mais nova loira

É burrinha que ela só

Quebrou o pé na moto

A inteligência virou pó

A danada é cachaceira

E feinha que dá dó

Enche a cara todo dia

Diz que é pra esquecer

O que ninguém consegue

É mesmo lhe entender

A doida só faz merda

Ao ponto de se perder

Mas quando está de pé

Ele também é guerreira

Procura sempre ajudar

E se entrega por inteira

Ela é lerda pra danar

E muito namoradeira

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A outra com muita sede

Foi na casa de sua tia

Pediu água pra beber

Bem na porta da cozinha

A tia lá do banheiro

Disse: tá embaixo pia

Ela pegou a garrafa

E bebeu com vontade

Começou a passar mal

E vomitar de verdade

Sua mãe desesperada

Correu fazendo alarde

Ela foi pro hospital

E ficou por lá um tempo

Depois veio para casa

E cresceu feito jumento

Teve filho com boiola

E com outro, dois “rebento”

Também é batalhadora

E muito inteligente

Mas a diaba da preguiça

Com ela está presente

Só acorda muito tarde

Dorme tanto que nem sente

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Mais velho porquinho

Não gostava de estudar

O seu tio todos os dias

Tinha que lhe arrastar

Não queria tomar banho

O pinto quis enterrar

Namorava a canjiquinha

Na oficina do seu pai

Dela só se via os dentes

No escuro nada mais

E no seu aniversário

A zoeira foi demais

Queria Ovomaltine

Nunca que ele bebeu

Os amigos arrumaram

E o desejo atendeu

Daí ele quebrou tudo

Acho que não entendeu

Hoje tá meio afastado

Escolheu outro caminho

Ficou um tempo sumido

Tem complexo de” inho”

Sua mãe sente saudades

Com falta de seu carinho

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Mas também é guerreiro

Vive muito pra família

Tem filhos espalhados

Um filho e duas “filha”

Quando jovem ele chorava

Não aguentava muita pilha

O quarto irmão maluco

Vive a vida viajando

Viajando em seus sonhos

Todo dia vai mudando

Um dia ele é escritor

E no outro vai sambando

Parece que não é certo

Da cabeça tem problema

Quando não está cantando

Tá fazendo algum poema

Ou então está chorando

Na cadeira do cinema

Tinha um cabelo belo

Não podiam nem tocar

Ele gastava um tempão

Pros cabelos pentear

Hoje ele está careca

E a barriga a apontar

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Com histórias verdadeiras

Falei sobre essas “pessoa”

São iguais a muitas outras

Vivem a vida na boa

Com toda dificuldade

Eles não estão à toa

Já brigaram muitas vezes

Como há muitas por aí

São estranhos e diferentes

Mas não se deixam cair

Filhos e filhas fortes

Esses pais foram parir

Mas que dure e perdure

Como rocha indestrutível

Uma união mantida

Por uma força incrível

O amor desta família

Vai ser sempre invencível

Pra você que tem família

Cuide dela com carinho

Sendo estranhos ou malucos

Sendo limpos ou porquinhos

Quando você precisar

Não vão te deixar sozinho