A SAGA DOS ROCHA'S NO MUNDO DE MEU DEUS
- 1 -
Amigos eu vim contar
Uma história verdadeira
Pode ser que acreditem
Pode ser que não queira
Mas o que for mentira
Pode ser pura besteira
Tem pessoas esquisitas
Cada qual com sua mania
Umas dormem toda noite
Outras dormem todo o dia
Algumas delas nem dormem
Têm uma vida bem vadia
Tem um pai que é seu fofo
Tem uma mãe fofinha
Tem um filho que é louco
Tem a filha maluquinha
Tem o filho que é tantão
Tem a filha que é burrinha
Vou falar de cada um
De todos eu falarei
Vou contar os segredos
Dizer tudo que eu sei
Podem até me bater
Seus podres entregarei
- 2 –
Já passaram por perrengues
Sofreram muito na vida
Quando lembram o passado
Choram muito as partidas
Com tudo o que passaram
Eles estão juntos ainda
Nos dias mais difíceis
A comida era farinha
Preparavam a farofa
Com sal e pimentinha
Faziam bolo de chuva
Eles comiam o que tinha
A diversão era a laje
Nas noites com a batida
Com o som lá na calçada
Curtiam muita a vida
A casa cheia de amigos
Galera doida e varrida
Sempre trepados em árvores
Na mangueira e amendoeira
Caçavam “biquin” na mata
Com visgo e atiradeira
Pulavam o valão na ponte
Faziam muita besteira
- 3 –
Um dia fofinho caiu
De bem alto e machucou
O pescoço ficou roxo
A coluna engessou
O dinheiro não chegava
A comida acabou
Subiam na cajazeira
Comiam cajá com sal
Comiam até as folhas
Eles não passavam mal
Caçavam até rolinha
E assavam no quintal
O pai tinha esperança
Que isso tudo ia passar
Dizia ele todo dia:
“- As coisas vão melhorar
Eu logo vou ficar bom
E comida vou comprar
A mãe desesperada
Vendo seus filhos sofridos
Mandou todos para casa
Dos avós muito queridos
Lá eles matavam a fome
E ficavam bem nutridos
- 4 -
Mas dos quatro rebentos
Uns deles não ia não
Ficava com a sua mãe
E segurava em sua mão
- mamãe aqui eu vou ficar
Vamos procurar um pão
Procurou por todo canto
E ele nada encontrou
Abriu todos os armários
Nem um farelo sobrou
Quando abriu a geladeira
Ele então se espantou
Lá no canto, tão sozinha
Disparou seu coração
Estava tão geladinha
Era um milagre então
Ele pegou a cebola
E mordeu com emoção
E a pobre da cebola
Virou logo refeição
Dividiu com sua mãe
Com sofrer no coração
E com olhos marejados
Pediu graça em oração
- 5 -
Com o tempo as coisas
Melhoraram de montão
O dinheiro foi chegando
E a comida no fogão
E a heroica cebola
Sempre é lembrada então
A fofinha da mamãe
Sempre viveu pra família
Cuidava dos quatro filhos
Fazia arroz com ervilha
Parecia uma loba
Cuidando da sua matilha
Irmã de muitos irmãos
Adorava mãe e pai
Tinha irmão de todo tipo
Dos que” fica” dos que “vai”
Sempre foi a mais sofrida
Quase nunca teve paz
O seu pai viu ir embora
Viu irmãos desencarnar
Alguns ainda estão aqui
Outros moram em outro lugar
Ela cuidou de sua mãe
Até seus olhos fechar
- 6 -
Até hoje trata os filhos
Como se fossem criança
Vive ainda com o marido
Seu fofinho de la pança
Ainda cuida dos netos
Dança conforme a dança
A irmã mais nova loira
É burrinha que ela só
Quebrou o pé na moto
A inteligência virou pó
A danada é cachaceira
E feinha que dá dó
Enche a cara todo dia
Diz que é pra esquecer
O que ninguém consegue
É mesmo lhe entender
A doida só faz merda
Ao ponto de se perder
Mas quando está de pé
Ele também é guerreira
Procura sempre ajudar
E se entrega por inteira
Ela é lerda pra danar
E muito namoradeira
- 7 -
A outra com muita sede
Foi na casa de sua tia
Pediu água pra beber
Bem na porta da cozinha
A tia lá do banheiro
Disse: tá embaixo pia
Ela pegou a garrafa
E bebeu com vontade
Começou a passar mal
E vomitar de verdade
Sua mãe desesperada
Correu fazendo alarde
Ela foi pro hospital
E ficou por lá um tempo
Depois veio para casa
E cresceu feito jumento
Teve filho com boiola
E com outro, dois “rebento”
Também é batalhadora
E muito inteligente
Mas a diaba da preguiça
Com ela está presente
Só acorda muito tarde
Dorme tanto que nem sente
- 8 -
Mais velho porquinho
Não gostava de estudar
O seu tio todos os dias
Tinha que lhe arrastar
Não queria tomar banho
O pinto quis enterrar
Namorava a canjiquinha
Na oficina do seu pai
Dela só se via os dentes
No escuro nada mais
E no seu aniversário
A zoeira foi demais
Queria Ovomaltine
Nunca que ele bebeu
Os amigos arrumaram
E o desejo atendeu
Daí ele quebrou tudo
Acho que não entendeu
Hoje tá meio afastado
Escolheu outro caminho
Ficou um tempo sumido
Tem complexo de” inho”
Sua mãe sente saudades
Com falta de seu carinho
- 9 -
Mas também é guerreiro
Vive muito pra família
Tem filhos espalhados
Um filho e duas “filha”
Quando jovem ele chorava
Não aguentava muita pilha
O quarto irmão maluco
Vive a vida viajando
Viajando em seus sonhos
Todo dia vai mudando
Um dia ele é escritor
E no outro vai sambando
Parece que não é certo
Da cabeça tem problema
Quando não está cantando
Tá fazendo algum poema
Ou então está chorando
Na cadeira do cinema
Tinha um cabelo belo
Não podiam nem tocar
Ele gastava um tempão
Pros cabelos pentear
Hoje ele está careca
E a barriga a apontar
-10 -
Com histórias verdadeiras
Falei sobre essas “pessoa”
São iguais a muitas outras
Vivem a vida na boa
Com toda dificuldade
Eles não estão à toa
Já brigaram muitas vezes
Como há muitas por aí
São estranhos e diferentes
Mas não se deixam cair
Filhos e filhas fortes
Esses pais foram parir
Mas que dure e perdure
Como rocha indestrutível
Uma união mantida
Por uma força incrível
O amor desta família
Vai ser sempre invencível
Pra você que tem família
Cuide dela com carinho
Sendo estranhos ou malucos
Sendo limpos ou porquinhos
Quando você precisar
Não vão te deixar sozinho