PELEJA NA FEIRA (V)

F. Mozart

Essas lembranças da feira

No meu coração sensível

De alma triste e dolorida

Quase queimando o fusível

Desse trovador barato

Falando do impossível

Que é o pensar plausível

Do poeta de Assaré:

Prefeito sem prefeitura,

Isso impossível é;

Prefeitura sem prefeito,

Isso é verdade e dou fé.

Naquele tempo de Zé

Silveira e outros troianos,

A cidade, alvo de inveja

Dos irmãos pernambucanos,

Brilhava como Rainha

Conjeturando seus planos

De crescer todos os anos

No progresso social.

Criou raiz nessa terra,

Infelizmente, o mal.

Ganância e putrefação

Em virulência fatal.

É fim de feira, afinal,

O que se vê na cidade.

É rio fora do leito,

Desrespeito, crueldade.

E por capricho da sorte,

Vem tudo em duplicidade.

Quatro anos de maldade

É pouco, botam mais quatro.

Portanto, Itabaiana

Vai virando esse teatro

De cidade abandonada

Que assim mesmo idolatro.

Vive nesse anfiteatro,

Sempre humilde e paciente,

O meu irmão conterrâneo,

Uma beleza de gente,

Criativa, sonhadora,

Mas, infelizmente, crente

Em promessa renitente

De liderança fingida

Que vai pra feira comprar

Consciência amortecida

Por qualquer quatro tostões

O futuro delapida.

A juventude perdida

Na droga e alienação

Quer conectividade,

Acesso à educação,

Banda larga de justiça,

Tecnologia e pão.

Mas voltemos à visão

Da feira de Itabaiana

Que foi tese de mestrado

Em geografia humana

Na USP lá de São Paulo

Em tese provinciana

Que nossa lide explana

Nessa Pós-Graduação

De Eduardo Pazera,

Um mestre em educação,

Doutor em geografia

Que nos deixa uma lição

Sobre a socialização

Dessa feira nordestina,

Pois não é só compra e venda,

Conforme ele mesmo ensina,

Local privilegiado

Em relação cristalina.

Sander Lee:

Meu pensamento atina

Para uma briga na feira

No “Remanso do Luar”

Na ponta de uma peixeira

O escritor Reginaldo

Conta-nos dessa maneira

Na ala da macaxeira

Zé Carlos ficava olhando

As mulheres se abaixarem

O produto observando

Quando a saia levantava

Suas calcinhas mostrando

Agora estou lembrando

Da Pomada milagrosa

A banha do Peixe Boi

Da ferida perigosa

Ao trauma psicológico

Que cura maravilhosa!

Uma cota caridosa

Seu João da Juventude

Para o Abrigo dos Velhos

Pedia com atitude

E a sacola enchia

Dizendo: “Deus lhe ajude!”

A memória não me ilude

A feira era uma festa

E no grande “Shopping Center”

Aquela gente honesta

Ali comprava de tudo

Numa ação imodesta

O pensamento me presta

Auxílio fenomenal

Ao ver Monsenhor Miranda

Fumando Continental

Revólver sob a batina

Aquele padre era o tal!

Muita cantoria havia

Na Feira do Bacurau

Os cantadores bebendo

Papuda com bacalhau

Haja prosa e poesia!

Parnaso de alto grau!

Também tinha o lado mau

Acorria o ladrão

Para vender os seus furtos

Na feira de troca, então

Quando a polícia passava

Era pau com as “duas mão”

Caminhão mais caminhão

Ali chegava de tuia

Os matutos assentados

Numa grade de imbuia

E o “quilo” da farinha

Era medido na cuia

O povo diz aleluia

Olhando tanta fartura

Uma colcha de retalho

Formava aquela estrutura

Ainda bem que a feira

É o fomento da cultura!

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 07/09/2014
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