PELEJA NA FEIRA (IV)
F. Mozart:
Com fineza e trato certo
Vamos cantar nossa loa,
Relembrando os velhos tempos
Dessa nossa terra boa
De onde saímos todos
Pra morar em João Pessoa.
O meu pai e minha mãe,
Arnaud e dona Iraci,
Já venderam cereais
Na terra de Sander Lee
Na grande feira da terça
Da qual tratamos aqui.
Na feira de Itabaiana
Cantava Manoel Targino
Com o grande Ivo Soares
Poeta que o destino
Reservou tão pouca glória,
Genial desde menino.
Tangendo as notas singelas
E cantando como um sábio,
Vivia Manuel Xudu
Com harmonia no lábio
Ensinando poesia
A Sander Lee e a Fábio.
Eu costumava com gosto
Curiar a noite inteira
Ouvindo o grande poeta
No ruge ruge da feira
Tomando cana e zinebra
Comendo som de primeira.
Como as águas da nascente
Do meu rio Paraíba,
Essa poesia pura
Subia de céu arriba
Com a gente aqui na terra
Tomando mé de tubiba.
Porque depois de beber
Duas garrafas de cana,
A gente fica sensível
Com trovador tão bacana,
O mais hábil repentista
A cantar em Itabaiana.
Sander Lee:
Numa disputa insana
Vi Mocinha da Passira
Com Otacílio Batista
Incitando a sua lira
Lá na barraca de zinco
De seu Aurino caipira
A minha alma admira
Esses poetas cantores
Que se enfrentam nos versos
Como reais lutadores
E eu ainda os considero
Excelentes professores
Vi na feira agricultores
Vendendo a produção
Que tiveram em um ano
Por pouco mais de tostão
Confesso, Fábio Mozart,
Que doía o coração
Vem-me à recordação
O velho Cine Ideal
Porque no dia da feira
Que fato sensacional
Íamos à matinê
Pro far West banal
Mas não havia outro igual
Para aquela nossa infância
O tempo em que a força
Influi com tal petulância
E o cabra sabe de tudo
Apesar da ignorância
Como lembro a elegância
Da mulher de Belarmino
D. Rosita tratava
O cliente com tal tino
Que eu lhe tirava o chapéu
Ainda sendo um menino
O respeito é divino
Mas falo que a natureza
Pintou em D. Jaíde
Espécime de beleza
Um caráter ilibado
Um emblema de pureza
Se a alma não está presa
Voa com muita alegria
Para lembrar de Galego
Um gestor que se dizia
Ser o Prefeito do povo
E o dono da Malharia
Não existia Luzia
Magazine, é natural,
Mas se comprova na loja
De seu Arlindo Cabral
Que naquele tempo era
Vendedor fenomenal
Seu Lourenço do Jornal
Na bicicleta montado
Corria a cidade toda
Com ar de politizado
Porque lia as manchetes
Do Pasquim tão censurado
Deixam-me emocionado
Essas lembranças da feira
Dos montes de abacaxis
De cada mulher fateira
Da calçada da igreja
E da nossa bebedeira...