PELEJA NA FEIRA (III)

F. Mozart

Encontrei Sander Lee por entre o povo

Declamando uns poemas “pés quebrados”.

Com poetas assim tão alquebrados

Eu não me sinto bem nem me comovo.

Seu cantar já não traz nada de novo,

É um tolo, um néscio, um pateta

Sem razão, sem lógica e sem meta.

Eu garanto, daqui pro fim da feira

Vou mostrar quem é mestre de primeira

Vou rasgar seu diploma de poeta.

Sander Lee:

Se insistir nessa forma de cantar

São contados os seus dias de cultura

Vai morar numa cela velha escura

Pra saber um poeta respeitar

Canta ruim pra caramba seu Mozart

Palmilhando em frase abjeta

Já a minha do povo é predileta

Persistindo essa verve fofoqueira

Eu garanto, daqui pro fim da feira

Vou rasgar seu diploma de poeta!

F. Mozart:

Conheci Sander Lee tomando cana

Aprendendo com o mestre Xudu

Esgotou todo o estoque de Pitu

Até hoje o vate não engana

Três ou quadro versinhos ele afana

E decora de forma incorreta.

Sem vergonha, ele se locupleta,

Escondendo autoria verdadeira.

Eu garanto, daqui pro fim da feira

Vou rasgar seu diploma de poeta.

Sander Lee:

Esse tempo passou, não bebo mais,

Descobri o prazer de andar sóbrio

Resolvi me livrar de tanto opróbrio

Que sofri com amigos carrascais

E o Fábio Mozart é um dos tais

Onde senta o povo desinfeta

Na sarjeta rasteja e vegeta

E no vômito lambuza a focinheira

Eu garanto, daqui pro fim da feira

Vou rasgar seu diploma de poeta.

F. Mozart:

Aprendi com o mestre Biu Salvino

A cantar com vigor e com destreza,

No banquete da arte ponho a mesa

E componho com alma de menino.

Ser um craque da glosa é meu destino,

Faço gol de trivela e bicicleta.

Com meu canto, poeta ruim se aquieta

Ou sai doido, bufando na carreira.

Eu garanto: daqui pro fim da feira

Vou rasgar seu diploma de poeta.

Sander Lee:

De poeta mirim não tenho medo

E gigante aqui eu não conheço

Biu Salvino até que reconheço

Mas você para mim é um arremedo

Na minha mão você vira é brinquedo

Minha verve erudita e seleta

Não se iguala à sua fala incompleta

Desfiando um rosário de besteira

Eu garanto: daqui pro fim da feira

Vou rasgar seu diploma de poeta!

F. Mozart:

Eu confesso também que já bebi

Muita água que juriti não toma

Nem por isso fico cagando goma

Como esse fingido Sander Lee

Presunçoso assim eu nunca vi

Gente falsa comigo pega a reta

Só me envolvo com artista e com esteta

Mesmo assim vou lhe dar uma canseira.

Eu garanto: daqui pro fim da feira

Vou rasgar seu diploma de poeta.

Sander Lee:

Esse Fábio Mozart é invejoso

E não pode enxergar uma estrela

No seu charco de lodo quer prendê-la

Revelando um caráter tenebroso

Mas eu vou te ensinar, ó cão raivoso,

Vou passar para ti uma dieta

Pau no lombo pra ver se te aquieta

No teu nível de cantador fuleira

Eu garanto: daqui pro fim da feira

Vou rasgar teu diploma de poeta!

F. Mozart:

Para ser um poeta repentista

Você falta ter verve e galhardia

O que vejo em você é picardia

E portanto aconselho que desista.

Em respeito ao seu mestre, abaixe a crista

Pois eu vou lhe ensinar a Alfa e Beta

Mesmo vendo que a arte não lhe afeta

Já o burro não vai á cumeeira.

Eu garanto: daqui pro fim da feira

Vou rasgar seu diploma de poeta.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 31/08/2014
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