O amor.
É um sentimento doído
Insensível e permanente
Algo bom, também sofrido,
É o querer do sonho ardente
È o morrer sem ter vivido
É o ausente estar presente.
É o viver desesperado
Desejando o esperado
É querer o bem querer
É amar o bem amado
É sofrer sem escolher
É calar quem é calado.
É o sofrer do maldizente
O viver do escorraçado
É o passar por paciente
Também por resignado
Á cair no poço ardente
E sair sem ser queimado.
É sofrer no paraíso
É pisar no cadafalso
É retribuir sorriso
Mesmo sabendo que é falso
É nunca ser um narciso
Mas ter sombra no encalço.
É viver vã esperança
Esperando por alguém
É ter sempre na lembrança
Esse alguém que nunca vem
É renúncia à uma herança
Daquilo que já não tem.
É uma dor que dói na alma
É por isso um desalmado
Que acalma a própria calma
Do sonhar sem ter sonhado
É aquilo que se espalma
Mas que nunca é espalmado.
É estar de bem consigo
Nunca estando bem feliz
É viver negando abrigo
Àquilo que o querer diz
É pensar que é muito antigo
Usando um novo verniz.
É passar o tempo inteiro
Querendo ver um alguém
É querer o mundo inteiro
Para dar a esse alguém
É querer ser o primeiro
Pra cercar quem atrás vem.
É passar despercebido
Com a dor que traz em si
É nunca ser conhecido
Por quem também ama a ti
É o sofrer desconhecido
É o viver que não vivi.
É calar o sentimento
Deixando-o bem sufocado
Não ouvindo o lamento
Do coração machucado
Pensando que o pensamento
Pode calar o culpado.