ODE PARA MEU SERTÃO

Lá de onde vim

Tem cantoria, é meu sertão

Tem mandacaru, tem peão.

Desde piquinin, aprendi a reza

E tombém o patuá.

Minha mãe adizia:

Se pode protegê, que seja reza

ou patuá, e nem ligo se macumbá

tombém será.

Si protége, vale tudo

Nessa virda quié só sofridão

Mode deuzi num acha rui

Ele sabe quié pro nosso bem,

Então, tombém abençoa.

Ê meu sertão, sufrido como eu!

Trago ocê bem guardado num meu peito,

Bem perto do coração.

Ocê palmipita como ele,

Ocê me dá vida, meu sertão.

Jà pedi ao bom deuzi

Qui quando ele mi chamá,

Pedi que num chame de dia

Quié pra mode num lhe abandoná.

Pedi que seja di noitinha,

Despreferência com a lua no altar,

Prá mode sabê o caminho

E do lado do nosso sinhô, eu ficá.

Num sei si vou sê atendido,

Nosso deuzi não responde de torneio.

Só sei que todo dia mi levanto

E boto o cavalo no arreio.

Saio pro esse sertão seco e sem desatino,

Percorro léguas e mais léguas, mesmo com sor à pino.

Dessa vida, sofrida qui levo,

Sertão meu lar, meu amigo,

Já disse que di desprefênça,

Não parto de dia pra num chorá.

De despreferênça vou di noitinha,

Com a lua num altar.

Sertão si me permite uma revelação,

Sempre tive ocê num meu peito,

Lugar onde se guarda só irmãos.

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