A via crucis da água.

A água tem seus caminhos

Como os rios também têm

Ambos caminham sozinhos

Não obedecem a ninguém

Livres como passarinhos

Sequer sabem donde vêm.

Nunca seguem a passos largos

Exceto na correnteza

Seguem caminhos marcados

Pela própria natureza

Muitas vezes desviadas

Para produzir riqueza.

Força d’água é desejada

Com enorme simpatia

Quando pode é criada

Pela nobre engenharia

Que de forma calculada

Tira dela a energia.

As margens que estão na terra

Pouco a pouco vão cedendo

A sua cor vem da serra

Que também está morrendo

E a foz do rio encerra

Seu caminho de tormento.

Todo rio tem seu leito

Toda água a sua fonte

Todo pescador tem jeito

Pro trabalho desgastante

Todo barco que é bem feito

Navega em águas distantes.

O navegar é pesado

É feito pra homem forte

Deixa o rosto bem queimado

E a mão com algum corte

Deixa o dedo calejado

Para muitos é um esporte.

Fui navegante de escunas

Conheci muitos lugares

Vi marés fazer espumas

De sereias ouvi cantares

Vi no mar espessas brumas

Vi nas tabernas pesares.

Vi o sonho do menino

Vi o rimar do poeta

Vi a falta de ensino

Ter o dinheiro por meta

Vi o sol bem pequenino

Bem contrário à luz que enceta.

Vi as mulheres do porto

Com a roupa em farrapo

Com o filho natimorto

Envolto em esparadrapo

Dizendo ser seu o corpo

Daquele ali estirado.

Vi muitas leviandades

Sofri muito devaneio

Visitei muitas cidades

Divididas pelo meio

Também vivi falsidades

De algum que aqui veio.

Se navegar é preciso

Ter água também o é

Para dizer bem conciso

Essa faz o bom café

E mesmo sem ser narciso

Com água lavo o meu pé.

Com a água eu rego a planta

Tiro o sujo do quintal

Toda doença ela espanta

Não é amiga do mal

Poluir não adianta

Antecipa o seu final.

Ame a água que tu tomas

Quando se deita na rede

Pode ser que tu te enganas

Poluindo a água adrede

Cuidado com a terra em chamas

O resultado é a sede.

Não ponha fogo na terra

Tenha dó dos passarinhos

Com fogo a terra se altera

Alterando o seu caminho

Esta terra que te enterra

Acaba devagarzinho.

Use a água moderada

Tenha ciência do risco

Depois que for acabada

Vai ter de mudar o vício

Não se faça de rogado

Não jogue na água o lixo.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 17/08/2014
Código do texto: T4925860
Classificação de conteúdo: seguro