PELEJA DE FÁBIO MOZART COM SANDER LEE NA FEIRA DE ITABAIANA (1)

PELEJA DE SANDER LEE COM FÁBIO MOZART NA FEIRA DE ITABAIANA

SANDER LEE

Na Feira de Itabaiana

Eu também vi esses cegos

De cantadores a pregos

Era um cenário bacana

De perfume a banana

De gelada a trancelim

De mágico a amendoim

O teatro da verdade

Que vendo a tua saudade

Suscitou saudade em mim

Contigo tomei cachaça

Nas barraquinhas de zinco

Uma beleza, não brinco,

Tanta peleja, que graça!

Esta saudade a traça

Jamais pode corroer

Meu pensamento a correr

Volta para aquela feira

Pra ele não há barreira

Que o impeça de ver

E vejo Arlinda do peixe

E vejo o homem borracha

Zé Mariano se acha

Vendendo feijão em feixe

Zé Costa com almofreixe

Lotadinho de Cordel

Penca Preta no bordel

Bebendo cana com fava

E Fábio Mozart estava

Trabalhando o seu cinzel

Vi seu Luis do feijão

Joca da carne de charque

As putas no desembarque

Vi Berto da União

Vi bucho, vi camarão,

Zé Dudu do Botafogo

Vi o marchante Pirogo

O café do Teve Jeito

Carioca do confeito

E seu Adonis do jogo

Tem inhame, macaxeira,

Tem a feira do mangaio

Inda se vende balaio

Cinturão e cartucheira

Tem sela e tem peixeira

Quartinha, forma de barro

Bêbado com quem esbarro

Se tudo isso carrego

Mas é a visão do cego

A mais forte que agarro.

FÁBIO MOZART

Na feira de Itabaiana,

Vi uma papagaiada:

Uma mulher deslumbrada

Comprando voto e banana

Feito cobra caninana

Carregando um deputado,

Um locutor, um soldado

E dezoito puxa-sacos.

Passeata de macacos,

Comício mal ajambrado.

Vi um pobre condenado

Pedindo esmola na cuia.

Fruta podre aquela tuia,

Sujeira pra todo lado.

Um surdo-mudo calado

Com vontade de cantar,

Balançando o maracá

Numa pancada bacana.

Na feira de Itabaiana,

Uma é ver outra é contar.

Vi carne no alguidar,

De bode, boi e galinha,

Vi Maria e vi Aninha

Vendendo seu munguzá.

Vi Joquinha do Preá

Assando carne de charque,

Vi Tadeu no desembarque

De uma venda, bebinho.

Vi Luciano Marinho

Sivucando lá no parque.

Eu vi Jessier Quirino

Mangando da matutada

Em fantasia ilustrada

Com astúcia de menino,

Falando de Zé Granfino

Até o Biu Penca Preta,

Mostrando toda faceta,

Paisagem do interior.

Eu vi tudo, sim senhor,

Vi até a coisa preta

De Buliu, a escopeta

Do cabaré de Topada.

Avistei minha moçada

Porque parei a ampulheta

Do tempo, numa mutreta,

Num lance mágico criar

Um protótipo, avatar

Do genial Pingolença

Reafirmando a crença

Do feitiço do lugar.

Vi Pingolença na feira

Fazendo seus belos truques

Entre toada e batuques,

Com a morena faceira

Que é a porta-bandeira

Dos índios de seu Mocó.

Um palhaço que tem dó

Da rapariga rameira,

Perseguida, peniqueira

Do tempo de minha avó.

Vi o branco paletó

Do compadre Zé Ferreira

Andando no meio da feira

Afinando o mocotó

Escutando o arigó,

Receitando uma meizinha,

Comprando fava e farinha

Pra alimentar Sanderli

Tudo isso aqui eu vi

Com olhos da Carochinha.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 14/08/2014
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