Volta por cima

Certa vez, há muito tempo,

Eu fiquei desempregado

Sofri muito contratempo

Chamado desocupado

Pobre e sem alimento

Doente e abandonado.

A família não me quis

Disse que eu a humilhava

Eu pra ela tudo fiz

Mesmo se não trabalhava

Entretanto o que não fiz

Disso também me acusava.

Eu caí no desespero

Vi meu mundo desabar

Não conseguia dinheiro

Muito menos trabalhar

Caminhava o dia inteiro

Para a fome eu enganar.

Apesar de muito fraco

De casa um dia saí

Pus minha roupa num saco

Fui andando por aí

Tinha muito tempo vago

Pra lembrar do que perdi.

E assim virei mendigo

Fui dormir pelas calçadas

Não tinha nenhum amigo

Tinha as roupas remendadas

E já sendo bem antigo

Não servia para nada.

Certo dia alguém estranho

Disse que eu poderia

Depois de tomar um banho

Ajudar na portaria

Lá eu teria algum ganho

Numa cama eu dormiria.

Eu fiquei muito feliz

Por saber que serviria

A alguém que nada quis

Mas que me ajudaria

Aceitei ser aprendiz

No trabalho que faria.

Aprendi que la estava

Para ver quem lá morava

Visita identificava

Algum carro manobrava

Se alguém se aproximava

Para ela eu perguntava.

Com quem queria falar

Se eu podia auxiliar

Ensinava qual lugar

Podia estacionar

Na saída eu ia olhar

Para nada ele levar.

Fiquei tempo nessa lida

Mas um dia fui chamado

Pela dama bem vestida

Que deixou o seu recado

Disse ela que à saída

Queria ver-me ao seu lado.

Eu que nada entendia

Queria que acabasse

Disse que ela poderia

Dizer onde a aguardasse

Eu por ela aguardaria

Ouviria o que falasse.

Ela disse em tom amigo

Vim aqui para dizer

Você é o meu pai antigo

Quero que venha me ver

Hoje não tem inimigo

Todos querem lhe rever.

Eu fiquei apavorado

Vendo a filha que deixei

Num quarto bem apertado

Que foi tudo o que lhe dei

Hoje estava perdoado

Pela filha que amei.

Eu confesso que chorei

Não de dor, muito feliz,

Minha filha eu pude ver

Tendo um lar como bem quis

Pode me compreender

Não sofrer com o que fiz.

A mulher que eu casei

Também veio me encontrar

Nessa hora a abracei

Consegui me controlar

Ela sabe o que passei

Mas eu sempre vou lhe amar.

Ao rever minha família

E sentir que estava vivo

Abracei a minha filha

Conheci um genro altivo

Voltei a morar na vila

Junto ao meu coletivo.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 10/08/2014
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