Vida na roça.
Levantei de madrugada
O meu galo me acordou
Beijei a mulher amada
Perguntei se descansou
Amolei a minha enxada
O meu dia começou.
Ordenhei minha vaquinha
Botei fogo no fogão
Joguei milho pra galinha
Dei comida pro leitão
Coloquei a canjiquinha
Pra cozinhar no fogão
Coloquei numa chaleira
Água pra fazer café
Fritei numa frigideira
Queijo pra minha mulher
Ela é minha companheira
Para o que der e vier.
Dei alpiste a passarada
Botei água na cocheira
Dei capim para a boiada
Para a vaca, capineira,
E olhei pra minha estrada
Que começa no terreiro.
Peguei meu chapéu de palha
Para o sol eu dei bom dia
Depois dobrei a toalha
Que a cesta de pão cobria
Tomei água de uma talha
Porque sede eu já sentia.
Fui pra roça trabalhar
La estava o meu serviço
Para ver o sol raiar
Assumi um compromisso
Cedo sempre levantar
E também fugir do vício.
No caminho há carrapicho
Que na minha roupa agarra
Ouço o correr do bicho
Vejo os pássaros na farra
Também há sacos de lixo
Na cerca que alguém amarra.
Há caminhos de formiga
Mostrando como fazer
Aproveito água da bica
Pra minha moringa encher
Ponho na sombra que fica
Fresca até o entardecer.
Quando preparo a terra
Que me dá o que comer
Vejo que nela se encerra
Todo o meu curto viver
Mesmo não havendo guerra
Certo é que vou morrer.
Na hora do meu almoço
Faço uma fogueirinha
Pra não ter almoço insosso
Mesmo se for só farinha
Quero que saiba seu moço
Nada peço pra vizinha.
Merendo café com leite
Broa de milho e angu
Pode ser que eu espreite
Um buraco de tatu
Pra ver se nele se ajeita
A cobra surucucu.
Pode ter curau de milho
Que a minha mulher levou
Sempre existe um trocadilho
Pra dizer que já chegou
Com todos vou dividi-lo
Talvez um não almoçou.
Antes de voltar pra casa
Faço um feixe de lenha
Isso em nada me atrasa
Nada há que me detenha
É para que eu tenha brasa
E o fogo se mantenha.
Quando eu chego em casa
Vejo a minha companheira
Sei que dela eu vou ganhar
Um abraço de roceira
Que não sabe me falar
Mas me cuida a vida inteira.
Vejo la no meu fogão
A chaleira de água quente
A panela de feijão
E o fogo incandescente
Cozinhando a refeição
Pro nosso jantar silente.
Ouço a minha companheira
Perguntar se estou cansado
Diz querer ir la na feira
Vender seu artesanato
Ela é boa costureira
Quer ganhar algum trocado.
Quando vamos descansar
Boa noite eu lhe desejo
Ela sabe que eu vou dar
Na sua face o meu beijo
Ela também vai me dar
O sorriso que eu almejo.
Essa é a minha lida
Me dá o rosto queimado
Por mim foi ela escolhida
Não estou inconformado
Pois sei que durante a vida
Muito amei e fui amado.