O SÁBIO VENDEDOR DE SONHOS
Entre a concupiscência dos meus olhos
E a matéria tocável que possuo
Venho aprendendo de soslaio
Os mistérios que a vida insinua
Eu que vivo em cima do muro
E nesse laço mundano não caio
Seguindo os passos do contador de histórias
Preencho com suas palavras
(os enfadonhos, tristes e sem glória),
Meus dias que agora ele salva,
Ao viver sem o conforto do lar
Pelas ruas a despejar memórias.
Palavras soltas, sábias, envoltas
Em mil presságios de saber,
De outrora pescados em todos nós.
Vem cavando e desocultando
Como se em nossa alma soubesse ler
Todos os segredos dos nossos nós,
Emergem entre lágrimas do fundo abismo
O nosso etéreo passado que dói,
Causa de fracassos ou de estranhos heroísmos
Mas que sem controle fazem mal a nós.
Ouvindo-o em busca do meu eu perdido
Encontro o motivo de comportamento atroz.
Translúcidos e sólidos paralelamente
Vem nos mostrar a cura em seus sóis.
Diz que o tempo cura e nos traz alívio
Assim que fisgados pelos fictícios anzóis
Dele (o mestre), que sobre pontes e arminhos
Desfaz insensatez transformando em bemóis.