O poeta iletrado.

Sou o véu da ingratidão

Que a ti vem reclamar

Das fortes dores do não

Da dureza em não amar.

Sou um vazio perene

Um vão sem a sua viga

Valente que a tudo teme

Um burro preso na biga.

Jamais queira ter a mim

Como amigo valoroso

Pois saiba que aqui vim

Como simples curioso.

O meu sublime escrever

Busca mensagens ao longe

Levando um doce saber

Como as palavras do monge.

Meu doce palavrear

É um grande passatempo

Um perfeito guerrear

Com a letra e seu acento.

Tenho a nobre paciência

De saber me consertar

Sem saber a inocência,

me coloca em um altar.

O meu nobre companheiro

Que precisar ler não vai

Ele não é o vendeiro

Das coisas que vêm do pai.

Meu calcanhar de Aquiles

É um negro de bordel

Um valente sem estilo

Um porteiro de motel.

Ser um bonde em desgoverno

É o caminho que alguém tem

Mas consegue por a termo

As dores que ele vem.

Não existe frustração

Neste sonhador errante

Aprendi que a solidão

É a minha acompanhante.

Se alguém tem vida frouxa

Não produz em quantidade

Preguiça produz o trouxa

Que quer viver na cidade.

Livre como um passarinho

Sou um poeta sortudo

Aprendi a ser sozinho

Ser ter nada tenho tudo.

O sol que a grama inflama

Às frias manhãs aquece

Vê preguiçoso na cama

Esse do trabalho esquece.

As luvas do enfermeiro

Que auxiliam na dor

São as mesmas o dia inteiro

Que são secas no vapor.

O ofício do esculápio

Não o leva ao xilindró

Esse é feito pro larápio

Que rouba para si só.

Siga sempre em linha reta

Esse é o caminho curto

Se encontrar pedras, marreta

Se ouvir gritos seja surdo.

Saiba que a sã alegria

É um doce complemento

Faz com que a covardia

Se esfumasse com o tempo.

Não se entregue à tristeza

Essa não o leva à frente

Tens enorme realeza

Por ter Deus e ser um crente.

Sou um velho cancioneiro

Que quer deixar de falar

É bom ter um companheiro

E ter com quem conversar.

Saiba que sou bem modesto

No meu pequeno saber

Sou um certo Pedro Ernesto

Poeta sem saber ler.

Mesmo analfabeto sendo

Gosto de fazer meu verso

Quando não o compreendo

Fica igual ao universo

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 03/08/2014
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