O Sem Terra

Faço parte de um povo

Que sofre a humilhação

Isso também não é novo

Mas não há compreensão

Tem algum que é um estorvo

Outro quer ocupação.

Esse é um grito doído

Que sai da minha garganta

Estou sempre escondido

Dando o almoço pela janta

Se existe algum bandido

Cada um colhe o que planta.

Pelo grito do sem terra

Já se ouviu muito sermão

Como se fosse uma guerra

Feita de foice e facão

Esse grito pela terra

É pura tapeação.

Há sem terra de mão fina

Que jamais viu um arado

A preguiça que o amofina

Faz dele um desocupado

Ser sem terra lhe ensina

A invadir o roçado.

A rodovia bloqueia

Parando os caminhões

Cuja carga ele saqueia

Em forma de mutirões

Por roubar a coisa alheia

Simplesmente são ladrões

Há cidadão bem vestido

Que saber tudo apregoa

Diz que é comprometido

E que a terra é coisa boa

É um vagabundo enrustido

Que simplesmente anda a toa.

Ser sem terra é vantajoso

Governos lhe dão ouvidos

Lavrar a terra é penoso

Mas isso não faz sentido

O sem terra é um idoso

Que há muito perdeu seu sítio.

O filho desempregado

Com o pai pega carona

Não está desamparado

E nem sempre está na lona

Geralmente embriagado

Quer mesmo é viver na zona.

A menina que se esforça

Para ficar bem bonita

Que se enfeita e vai à roça

Com seu vestido de chita

Seu sorriso bem esboça

A sua vida sofrida.

Chamam-lhe de preguiçosa

Que precisa ir à luta

Chamam-na de melindrosa

Se o pau barraca chuta

Sua sorte escabrosa

É virar uma prostituta.

Muito grito de sem terra

Que pede uma ocupação

Seu desejo de ter terra

É a mais pura enganação

Quer mesmo é fugir da guerra

Do trabalho no talhão.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 03/08/2014
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