O Sem Terra
Faço parte de um povo
Que sofre a humilhação
Isso também não é novo
Mas não há compreensão
Tem algum que é um estorvo
Outro quer ocupação.
Esse é um grito doído
Que sai da minha garganta
Estou sempre escondido
Dando o almoço pela janta
Se existe algum bandido
Cada um colhe o que planta.
Pelo grito do sem terra
Já se ouviu muito sermão
Como se fosse uma guerra
Feita de foice e facão
Esse grito pela terra
É pura tapeação.
Há sem terra de mão fina
Que jamais viu um arado
A preguiça que o amofina
Faz dele um desocupado
Ser sem terra lhe ensina
A invadir o roçado.
A rodovia bloqueia
Parando os caminhões
Cuja carga ele saqueia
Em forma de mutirões
Por roubar a coisa alheia
Simplesmente são ladrões
Há cidadão bem vestido
Que saber tudo apregoa
Diz que é comprometido
E que a terra é coisa boa
É um vagabundo enrustido
Que simplesmente anda a toa.
Ser sem terra é vantajoso
Governos lhe dão ouvidos
Lavrar a terra é penoso
Mas isso não faz sentido
O sem terra é um idoso
Que há muito perdeu seu sítio.
O filho desempregado
Com o pai pega carona
Não está desamparado
E nem sempre está na lona
Geralmente embriagado
Quer mesmo é viver na zona.
A menina que se esforça
Para ficar bem bonita
Que se enfeita e vai à roça
Com seu vestido de chita
Seu sorriso bem esboça
A sua vida sofrida.
Chamam-lhe de preguiçosa
Que precisa ir à luta
Chamam-na de melindrosa
Se o pau barraca chuta
Sua sorte escabrosa
É virar uma prostituta.
Muito grito de sem terra
Que pede uma ocupação
Seu desejo de ter terra
É a mais pura enganação
Quer mesmo é fugir da guerra
Do trabalho no talhão.