A voz do vento.
Se eu pudesse acompanhar
Seu andar por um momento
Eu iria aconselhar
A ouvir a voz do vento
Que está a demonstrar
O poder que tem por dentro.
Essa voz está na brisa
E também no vendaval
Numa folha que se pisa
Na fruteira no quintal
No sepulcro que avisa
Ser o homem um ser mortal.
Diz o vento que nos ama
E que pode nos salvar
Que dispensa qualquer fama
E não quer o mal causar
E também nunca reclama
Do que sofre sem falar.
Ele diz que nos perdoa
E que sabe discernir
O falar que só destoa
Do dever de bem servir
De quem tem a vida boa
Mas não sabe repartir.
Essa voz diz sem engano
Mas de forma bem discreta
Ela cala se eu reclamo
Fica em sala secreta
E só sai quando eu proclamo
Ser ela a estrada reta.
É a voz do ancião
Que bateu à nossa porta
Pra pedir um simples pão
Temendo pela enxota
Alimentos não lhe dão
Seu filho não lhe suporta.
É a voz de alguém que sofre
Por não ter nenhum abrigo
Seu falar é uma estrofe
Sobre o seu viver antigo
Tem no coração um cofre
Onde guarda o seu amigo
Esse amigo não lhe trai
Já provou ser confiável
Quando fala só distrai
Quando cala é sempre amável
Quando parte vai ao pai
Quando volta é sempre afável.
Ouça bem a voz do vento
Ela pode lhe dizer
Qual a causa do lamento
A razão do seu sofrer
Para quem é avarento
Eis aí seu padecer.
Essa voz nunca se cala
Ninguém pode lhe calar
É sutil a sua fala
Porém fácil de escutar
Basta corrigir a falha
E a si mesmo consertar.
Se ouvir a voz do vento
Vai saber como esperar
Aguardar o seu momento
Para consigo não lutar
Encontrar o argumento
Para a si recuperar.
Sei também que a voz do vento
Não consegue se impor
Sobre quem é agourento
Da dor é provocador
Leva em si o sofrimento
Desconhece o que é amor.
Se eu falar que ouço o vento
Todos vão contradizer
Sei, porém, que o pensamento
Veio a mim para dizer
Que estou neste momento
Bem cumprindo o meu dever.
Meu dever eu vou cumprir
Mesmo se chamado insano
E também vou repetir
Como todos, sou humano,
Quando a voz do vento ouvir
Vai ouvir só EU TE AMO.