Meu casulo inexplorado

Meu casulo inexplorado

Feito de matéria instável

Para mim foi emprestado

Porém não é retornável

É no fim abandoado

Por ser algo descartável.

O meu fim é esperado

Como algo indesejável

Apesar de indesejado

É também inevitável

E do que foi conquistado

Pouco é aproveitável.

Numa volta do caminho

Sei que vou ser encontrado

Pouco importa estar sozinho

Ou estar acompanhado

Perto ou longe do vizinho

Viver só ou ser casado.

No casulo abandonado

Alguém vai sobreviver

Assim é aproveitado

Para a vida acontecer

E assim um anjo alado

Poderá aparecer.

Assim tudo é o contrário

Do que me foi ensinado

Sou um consignatário

De um casulo reformado

É consuetudinário

Tudo que é divulgado.

Somos palha na palhoça

Somos praga no jardim

No castelo ou numa choça

Tudo tem principio e fim

Do trabalho na carroça

Sempre há alguém afim.

Na muralha da mansão

Há um misto de horror

Que se vê na oração

Feita pelo mau pastor

Que aconselha a doação

Para aliviar a dor.

Na proposta do pastor

Há segredo bem guardado

Ele quer ser o senhor

Do rebanho tosquiado

Também ser merecedor

Para ser arrebatado.

Na miséria de valores

Que há na vida que vivemos

Poucos são nossos pudores

Só prazeres nos queremos

Em geral temos credores

Pelo mal que lhes fizemos.

As migalhas repartidas

Pelas mãos acobertadas

Servem de contrapartidas

Das maldades praticadas

Das palavras repetidas

E das mortes provocadas.

As crianças e as viúvas

Não importa aonde estão

São as mesmas criaturas

Que espantam a solidão

Não reclamam das agruras

Pouco tendo ainda dão.

Nas encostas das montanhas

Onde algum rio começa

Alguém vê coisas estranhas

E diz que não interessa

Na verdade é pura manha

Quer ficar rico depressa.

Diz que viu a mãe do ouro

Também sabe onde ela mora

Fala muito em mau agouro

Se alguém chegar na hora

Incapaz de dar no couro

Sua vida não melhora.

A mulher ele atormenta

Sendo omissa ou lutadora

Quase sempre experimenta

Fazer dela a servidora

Quando ela não aguenta

Diz que ela é pecadora.

No estado que me encontro

Tenho muito a reparar

Tenho erros que não conto

Porém penso em melhorar

No começo eu pus um ponto

Pra depois continuar.

No meu lento caminhar

Vou ganhar novo casulo

Isso pode demorar

Mas nenhum trabalho é nulo

Tudo que eu melhorar

Voltará a ser entulho.

Algo há que sobrevive

Cada um com seu labor

Se com o mal ainda vive

E não sabe o que é amor

O meu Eu agora é livre

Pra voltar ao Criador.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 19/07/2014
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