CORDEL MOTE: TUDO ISTO É A NATUREZA E AS COISAS DO MEU SERTÃO.
Fogo no mêi da serra
Do home fazeno broca.
Uma cabritinha que berra
Cum o pé preso na loca.
Um tatu dentro da toca,
Aranha caraguejêra,
Uma largata cortadêra
Dizimano a prantação.
Um golinha, um azulão
Pintano só de beleza
Tudo isto é a natureza
E as coisas do meu sertão.
Uma cerca de faxina,
De pedra, de sabiá.
Uma raposa malina
Debaxo do pé de juá.
Um gato maracajá,
Uma cigarra que canta.
Um moleque que s’espanta
Cum relampo e o truvão.
Um elegante pavão
Esbanjano delicadeza
Tudo isto é a natureza
E as coisas do meu sertão.
Carro de boi conservado
Que canta toda tardinha.
Saco de puba prensado
Numa casa de farinha.
Um calango, uma oncinha
Se escondeno no buraco.
Uma ticaca, um casaco
Fedeno que só o cão.
Um assubio do canção
Demonstrano realeza
Tudo isto é a natureza
E as coisas do meu sertão.
Uma luz de candiêro,
Fogo corredô, saci.
Um passarín ferrêro,
Uma cordoniz, juruti.
Par de rolinha, bem ti vi,
Uma gia, um caçote
Dano um monte de pinote
Pra dentro do cacimbão.
Caicará,um gavião
Cuidano de toda limpeza
Tudo isto é a natureza
E as coisas do meu sertão.
Uma carroça, uma cangaia,
Um pangaré, um jumento.
A noite o rasga mortaia
Passa todo agorento.
Um serra pau, um papa vento,
iscorpião e imbuá.
Um inchú, um aripuá
Causano assombração.
Um tá cavalo do cão
Demonstrano esperteza
Tudo isto é a natureza
E as coisas do meu sertão.
Um pé de mandacaru
Espinhento e formoso
Tambozêro, mulungu
Chêi de viço, coposo.
Um riachín majestoso,
Uma fragosa cachoêra.
Uma poica paridêra,
Um cachaço, um barrão.
Tanajura, formigão
Que demostra muta brabeza.
Tudo isso é a natureza
E as coisas do meu sertão.
Véi fumano a pacaia
Sentado numa calçada,
Um potó, uma lacraia,
Uma véa desdentada
Morreno de dá risada
Daisotas mulé na fêra.
Um prantie de macaxera,
Um pé de manjericão
Oto de baba timão,
Um gangarro, uma brugesa
Tudo isto é a natureza
E as coisas do meu sertão.
Um pé de fulô branquinha,
Uma bizunga a chêrá,
Um pote, uma quartinha,
Uma cela, um caçoá.
Pé de angico, um trapiá
Enfeitando a fazenda,
Mocinhas fazeno renda
Espaíada pelo chão,
Um açude com rachão
Seno a cara da pobreza
Tudo isso é a natureza
E as coisas do meu sertão.
Um bucado de urubu
Se cuidano da carniça
Um mói de rolinha, lambu
Dento da moita de maliça.
Uma braúna tão ruliça
Assombreano a estrada.
Uma casa malasombrada
Caino só os torrão.
Uma foguêra de São João
A noite intera acesa
Tudo isto é a natureza
E as coisas do meu sertão.
Pedra- PE,10 de março de 2014