O LENHADOR

Fui na minha juventude

Lenhador de profissão,

Devastei muitas floresta

Com meu machado na mão;

Toda árvore frondosa

Que tivesse mais idade

Eu cortava em quantidade

Pra fazer lenha e carvão.

Insensato eu derrubava

Baraúna e pequizeiro,

Umburana, sucupira,

Jatobá e marmeleiro;

Quanto mais passava o tempo

Mais cortava sem ter pena

E o que era selva plena

Foi virando um tabuleiro.

Veio a chuva, sol e vento,

Uma erosão começou,

Sem adubo nem sementes

Um deserto se formou,

Pois sabemos que de onde

A gente tira e não bota,

Toda fonte se esgota

E a floresta se esgotou.

Só restou um arvoredo,

De beleza manifesta,

O mais antigo exemplar

Onde eu fazia a sesta,

Ali muitos passarinhos

Que perderam seu abrigo

Vinham reclamar comigo

Por devastar a floresta.

Sem ter lenha pra vender

Eu fiquei no aperreio,

Pra resolver o problema

Eu só encontrei um meio:

Fui cortar o arvoredo

Onde eu sempre descasava

E das aves escutava

O mais sentido gorjeio.

Ao suspender o machado

Pra dar o golpe fatal,

Uma voz estremecida*

Escapou do vegetal,

Dizendo: não seja ingrato

Para não ser infeliz,

O que foi que eu te fiz

Para receber o mal?

Dou conforto ao viajante

Andarilho dos caminhos,

Alimento os animais,

Agasalho os passarinhos;

Muitas vezes dei-te abrigo

Nas horas do sol a pinho

Pra ter o mesmo destino

Que tiveram meus vizinhos!

Ao ouvir essa palavras

Senti grande comoção,

Um sentimento de culpa

Invadiu meu coração;

Não cortei o arvoredo

E voltei angustiado,

Declinei do meu machado

E mudei de profissão!

* Voz da consciência.