Escravo do vicio.

Aos amigos do Recanto esclareço que este texto é mera criação intelectual e não tem absolutamente nada a ver com o autor.

Eu olhei o precipício

Como forma de morrer

Era escravo do vício

Dele estava a depender

Desisti do meu oficio

Para nas ruas viver.

Nas vielas me escondia

Sem dinheiro pra fumar

Trabalhar não conseguia

Perdi a família e o lar

Assim era o dia a dia

Cheguei mesmo a assaltar.

À mulher abandonei

Pra viver em um cortiço

Dos meus filhos não cuidei

Falhei nesse compromisso

Tudo que acumulei

Eu gastei nesse mau vício.

Os meus pais aconselhavam

Para eu voltar para casa

Os meus filhos me abraçavam

Diziam que a nossa casa

É a mesma e eles estavam

Suando ao calor da brasa.

A minha mulher chorava

Escondido pelos cantos

Acredito que me amava

E me perguntava aos prantos

Por que eu a abandonava?

Quais seriam os desencantos?

Eu apenas respondia

Eu não posso mais amar

Sei que não a convencia

Mas tentava acobertar

O vicio que me roía

Eu sem força pra lutar.

Dia a dia eu acabava

Vi meu corpo definhando

O vicio me escravizava

Ia aos poucos me matando

Tudo agora me faltava

Vi a morte me rondando.

Todo dia eu me olhava

Nos espelhos das vitrinas

As pessoas me evitavam

Pelo cheiro de latrina

Quando um se aproximava

Era pra pregar doutrina.

Fui um dia a uma igreja

Para ouvir falar de amor

La travei uma peleja

Com um culto pregador

Que dizia o assim seja

Com ares de gozador.

Perguntei qual o sentido

De pregar o evangelho

Querer converter bandido

Com sermão gasto de velho

Por que o recém-nascido

Já pecou não sendo velho?

O pastor me reprovou

Disse que estou marcado

Da igreja me expulsou

Disse que sou o diabo

Porém não me explicou

Onde eu estava errado.

Perguntei a um obreiro

O que é a salvação

Ele disse zombeteiro

Com falta de educação

Pra saber deve primeiro

Dar a contribuição.

Perguntei a um menino

O que é religião

Ele disse: é um destino

Coisa sem explicação

É um fato cerebrino

Que comanda a multidão.

Perguntei outras pessoas

O que é religião

Ouvi poucas coisas boas

E muita provocação

E ouvi também as loas

De quem diz ser sabichão.

Eu segui a caminhada

Esperando algo pior

Esperava a madrugada

Pra ouvir coisa melhor

Mesmo não ouvindo nada

Eu ouvia algo maior.

Eu ouvia alguém dizer

Que eu estava acostumado

A seguir ao bel prazer

Não cumprindo o combinado

No final iria ter

Tudo que me foi tirado.

Entretanto eu deveria

Transformar a minha vida

A estrada que eu seguia

Tinha de ser esquecida

O sonho que tive um dia

Era a porta de saída.

Eu então me corrigi

Fui rever minha mulher

Os meus filhos protegi

Disse a eles que se houver

Algo pra nos destruir

Ouçam Deus onde estiver.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 12/07/2014
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