A GUERRA DE ZÉ DO CONTRA CONTRA OS CONTRARIADOS!

Zé do Contra tá dizendo

Que em Bonfim é o cara

Acaba com tradições

Mesmo sendo elas raras

O que passou pouco importa

Contrariar é sua tara.

Desrespeitou o São João

Modificando a festa

Contrariando os mais velhos

Por isso o povo contesta

Sem o Forró Pé-de-serra

A nossa festa não presta.

Trouxe o forró elétrico

E depois o pagodão

Até Ivete Sangalo

Na festa pôs o coxão

O sertanejo e o arrocha

Não casam com São João.

Pôs trio elétrico na festa

Pra agitar a galera

Igualzinho à Capital

Que já não é o que era

Abadás e marketing

Enriquece a alta esfera.

Blocos juninos nas ruas

Descaracterizados

Já os grupos de Quadrilhas

Não são tão valorizados

Nem por nosso poder público

Tampouco pelo privado.

Pra Corrida de Argolinhas

Pro Reisado Santos Reis

Pras Rodas cantando versos

Pro Trem do for all inglês

Pro Pau-de-sebo ensebado

Zé do Contra não dá vez.

Despreza o Calumbi

E também Samba-de-lata

Até nas comidas típicas

Ele meteu sua pata

Proibindo queijo e bode

De origem naturata.

Desdenhou de Santo Antonio

Por que nunca namorou

No meio de um forró

Sonhando em fazer amor

Agarradinho e bebendo

Uma dose de licor.

Até a Fogueira das Moças

Zé do Contra proibiu

Indo contra São Marçal

O protetor dos xibius

São Pedro até reclamou

Nem digo o que ele ouviu.

Foi pro Bico do Urubu

Sobre um Feixo de Lenha

Caroá no Jegue Elétrico

Um bom som não desempenha

Me Cutuca Ignorantes

No Sfrega só com senha.

Tentou também proibir

Nossa Guerra de Espadas

Uma herança cultural

Na alma enraizada

Sempre a favor da paz

Mesmo com a pele queimada.

O Casamento Matuto

Pra ele não tem valor

O Teatro é loucura

Que junta o riso e a dor

Zé do Contra é contra tudo

É contra até o amor.

Zé do Contra odeia livros

E os que gostam de estudar

Quanto mais analfabetos

Funcionais para usar

Zé do Contra se elege

Ao que se candidatar.

Zé do Contra é contra a feira

E a deixa entregue às traças

A de livros a de rua

A de arte de cabaça

E outras artes também

Não importa quem as faça.

É dos Direitos ‘só manos’

Defende as autarquias

Minoritárias e mínimas

Que não querem a harmonia

Entre todas as pessoas

Só sua mente é sadia.

Chico César é que foi macho

E mandou na Paraíba

Não tocar forró elétrico

Mostrando que possui quibas

Festa Junina é Forró

De Pé-de-Serra pra riba.

Zé do Contra tá se achando

Pensa que o povo não pensa

Pensa que quem pensa é doido

E por isso ele dispensa

Qualquer um que não lhe traga

Algo pra sua despensa.

Ou fique o puxando o saco

Lixando a cara-de-pau

Zé do Contra gosta disso

Ele é o maioral!

Contraria muita gente

Que dele só fala mal.

Lá no Beco do Bazar

No Bosque na Estação

No Bom Jardim e no Campo

Do Gado da região

No Alto do Cemitério

Onde não há enrolão.

Já brinquei de Balão Beijo

Estrela Balão Garrafa

Soltei também relenteiro

Tomando pinga de abafa

Saltando sobre fogueiras

Como um peixe na tarrafa.

Respeito a diversidade

Sexual e teórica

Mística e cultural

Até pessoa metódica

Mas defendo com afinco

Nossa herança histórica.

Quem determina enfim

O como comemorar

As crenças e tradições

Do festejo popular

É um homem e seu grupo

Ou a história do lugar?

Zé do Contra não queria

Que houvesse eleições

Ele mandaria sempre

Sem ter insatisfações

Driblando a democracia

Com antigas convenções.

Por isso ele se zangou

Ficou retado da vida

Quando os contrariados

Numa atitude aguerrida

Foram pro meio da rua

Criticar suas medidas.

O avanço do atraso

Tem dominado Bonfim

Que um dia teve de tudo

Hoje é só um estopim

Sem pólvora pra detonar

Ranço de coisa ruim.

Eu não tenho nada contra

A nova modernidade

Sei que muitas já passaram

Outras virão mais tarde

Mas sem manter a essência

Não se tem felicidade.

Desejo que Zé do Contra

Mude ao menos um pouquinho

Não queira fazer pra si

De Bonfim um curralinho

Pois quem sobe a Costa Pinto

Vai dar no Pernambuquinho.

Senhor do Bonfim, junho de 2014.