O SORTUDO AZARADO
João de Capistrano
Era uma caba tão azarado
Que tudo qu’ele fazia
Tendia a dar errado.
Era gente muito boa
Que andava assim a toa
Meio leso, abilolado.
Conta os seus amigo
Com muito descaramento
Que já vem com esse castigo
Derna o seu nascimento
Pois ao nascer o tal
Em vez do cordão imbilical
Cortaro seu documento.
Pra sua má sorte ou azar
Quando era recém nascido
Uma doença hospitalar
Lhe pegou desprotegido.
É por isso que hoje em dia
Ele é mago feito gia
E bastante desnutrido.
Quando ainda era criança
Pra sua sina se firmá
E num é que o boibonquento
Adquiriu outros má,
Papêra, tifo, anemia
Hepatite, embolia
Na região pulmoná
Mas veio a escapar
De toda empedemia.
Sua má sorte, azar
Na medida que crescia
Também o acompanhava.
Num canto qu’ele pisava
Nenhum mato ali nascia.
Começou a se espalhar
Sua fama na região
E o povo a lhe olhar
Com muita reprovação.
Quando na esquina surgia
Todo mundo se benzia
Pra espantar a maldição.
É que ao chegar num lugar
Tudo de ruim acontecia
Ou o comércio era assaltado
Ou muita gente morria
Gritava um assustado:
- Lá vem João azarado
Credicruz, Ave Maria!
Em desespero corria
Todo mundo da cidade.
Os banco se protegia
De alarme, portão, grade.
Ao se espalhar a nutiça
Se escafedia puliça,
Juiz, delegado e pade.
Era um grande ribuliço
Um desmatelo danado
De modos que o prefeito
Dava inté feriado
Quem era doido ficar
No mesmo canto, lugar
Que estava João Capado?!
Acontece que João
Um dia veio acertar
Na loteria esportiva
E na hora de buscar
Cem milhões de montante
Uns duzento assaltante
Butaram pra lhe roubar.
Pegaram o condenado
Nas becas do seu cangote,
Deram-lhe umas cem tapa,
Uns duzentos cocorote.
Pra não morrer na porrada
Entregou toda bolada
Ficando sem nenhum dote.
Mesmo assim não desistiu
Nem menos desanimou
Para novo investimento
Um circo ele alugou.
Na hora do espetáculo
Mais um novo obstáculo
O circo se incendiou.
Daí, então, ele arrumou
Mas outro empreendimento
Pras bandas de Toritama
Comprou um aviamento.
Quando o inaugurou
Na mesma hora fechou
Por faltar licenciamento.
Acontece que o febrento
Tinha mesmo muita raça
Alugou um automove
Para butá-lo na praça.
Quando assim ia saindo
O carro foi se destruindo
Ficando só a carcaça.
- Danô-se! Mas que desgraça
De vida é essa minha?!
Gritava o pobre de João
Com a cara bem rasinha.
Sem estepe e sem prumo,
Desnorteado, sem rumo
Comendo arroz com farinha.
E foi se embora pra São Paulo
Para ter sorte na vida.
Chegando no aeroporto
Levou logo uma batida
Que daqui deu pra ouvir.
Foi parar na UTI
Pras bandas de Aparecida.
Na terra dos Bandeirantes
Butou dois cabaré
Um na rua Augusta
Outro na praça da Sé.
Mas o destino não quis
Que o pobre do infeliz
Ficasse mermo de pé.
Ao abrir seu cabaré
Foi um alvoroço infeliz
Os home e as mulé
Naquele diz e me diz.
Pouco que se descuidou
A clientela roubou
Quase toda as meretriz.
Ficando só Biatriz
Pra interar sua sina.
Tomou ela por esposa
Por também ser nordestina.
Pra sua desalegria
Acontece que a Bia
Era home e não menina.
E com desgosto da vida
Nunca mais veio inventar
Qualquer outro investimento
Mesmo se fosse casar
Pois era mesmo sem sorte
E num é que a morte
Bia também veio buscar.
Ficou sozinho no mundo
Sem parente, arrazado,
Mergulhado num destino
Muito ruim, condenado
Para viver na escória.
Esta é a triste estória
Do sortudo azarado.