BOATO DE CORDEL

BOATO DE CORDEL

O boato! Comecei a pensar nisto, ontem, pela fresquinha, quando o meu amigo Oliveira me disse em segredo, que a D.Felisberta gasta rios de dinheiro em chamadas de telemóvel. Eu conheço a D. Felisberta. É minha vizinha! Conheço-a bem. Passa efectivamente o dia inteiro a falar. E fala com quem? Deve ser com alguém importante – talvez o Luís Zuzarte ou o Paulo Morgadinho – que são pessoas bem informadas e com muita paciência. As conversas versam sempre a boatice. Tirei hoje as minhas dúvidas ao ouvi-la durante duas horas. Na sua varanda enfeitada com a bandeira portuguesa, dois vasos de flores, uma mangueira e uma gaiola vazia, gritava irritadíssima contra aquele “malandro” do Isaltino Morais que tem o sobrinho na Suiça e que – dizia ela, lhe cobria uns cobres para fugir aos impostos. Que nada se parecia com a sua irmã. Apesar de esta ter um amante na polícia de transito e não pagar as multas, era muito mais séria do que ele e do que o Paulo Portas com a história do Ferrari, muito mais do que o Major Valentim Loureiro com as batatas da tropa; muito mais séria do que Pinto da Costa a comprar árbitros e, ainda muito mais séria do que os bispos das igrejas manas quando exigem o dízimo a quem não tem um cêntimo (não faz mal dizem eles, se não têm dinheiro tragam uma cadeira, uma mesa, o micro-ondas); muito mais séria que certos timorenses que querem ser portugueses só porque gostam mais de bacalhau do que farinha de milho; e para já não falar do Mário Soares e do Manuel Alegre com a história das presidenciais que o Sócrates engatou, ou do Adelino Ferreira Torres de Amarante , um cacique que até perdeu a Quinta das Celebridades; muito mais séria até, que Carlos Cruz, embora tenha dúvidas por ser bonito e bem-falante; muito mais séria ainda que o D. Afonso Henriques que se dizia filho de D. Teresa e de D. Henrique, sabendo todos que o pai era Egas Moniz. Mais… que a irmã não se podia sequer comparar a esse Bush quando em Orleães discursava sobre a devastação do Katrina dizendo que a reconstrução tinha sido um êxito; mais séria do que a lei portuguesa de protecção aos emigrantes africanos quando nos jornais não os podem identificar como negros, ou que a lei de protecção aos bancos, os obriga a apresentar lucros de milhões. E até mais séria que a História de Portugal, por esta esconder o que Vasco da Gama fez aos indianos, cortando-os às postas, menos um para, quando chegasse a terra, dizer ao seu rei: - Aquele de barbas fez este lindo serviço e aconselhou sua alteza a fazer com esta mortandade um grande caril.

Ouvi ainda esta pérola: que a irmã, apesar de tudo, conseguia ser mais séria que o próprio Presidente Cavaco Silva quando afirmou que não gostava de bolo-rei, sabendo nós todos que é o seu bolo preferido. Principalmente quando está em directo pela TV.

Foi a partir daqui que não aguentei mais. Fechei a porta e já no sofá, comecei a ter mais pena da minha vizinha Felisberta. Sabia do seu problema psicológico (encontro-a todas as semanas na sala de espera de psiquiatria onde vai a tratamento como eu). Só não sabia que o seu telemóvel é um simples sapato de salto alto. A minha vizinha está muito mal é verdade, mas não estou mais preocupado com a conta daquele telemóvel. Preocupado fiquei apenas, com a sua mente doente e com a médica que não lhe consegue tirar estas manias: a do sapato-telemóvel e a do boato.

P.S. À noite, quando fui ao café, conheci a irmã da D.Felisberta. É uma senhora alta, vistosa e com muito boa apresentação. Ao contrário do marido: baixo, gordinho, e que eu conheço como sendo electricista vai para 20 anos. Vejam como o Mundo está cheio de doidos!

E boateiros como a D.Felisberta e o meu amigo Oliveira.

kirapintor
Enviado por kirapintor em 15/05/2007
Código do texto: T487556