Lembranças do passado.

Ao olhar o horizonte

Retornei ao meu passado

Apesar de confiante

Eu fiquei muito assustado

Porque vi naquele instante

Que dei muito passo errado.

Eu me vi pequenininho

Dando os primeiros passos

Dentro do berço e sozinho

Rindo estendia os braços

Procurava um amiguinho

Para estreitar os laços.

Vi o meu pai trabalhando

Sob um sol abrasador

Uma terra preparando

Porque é agricultor

Vi a minha mãe chorando

Porque não tem cobertor.

Vi um gato dorminhoco

Dormindo sobre o fogão

Um cachorro atrás do toco

Latindo para um leitão

Vi subir no pé de coco

Formigas de ocasião.

Vi um sapo na lagoa

Coaxar de madrugada

Uma esteira de taboa

Já bastante desgastada

Um rapaz andando a toa

Esperando a namorada.

Vi um padre de batina

Ministrando um sacramento

Professor na sabatina

Para dar conhecimento

Vi um velho na cantina

Sufocando o sentimento.

Vi uma mulher me olhar

E falar para si mesma

Esse nunca vai vingar

Vai viver como uma lesma

Nada vai adiantar

Embalá-lo em uma resma.

Vi também a minha escola

O lugar que trabalhei

O campo que joguei bola

O riacho que pesquei

O tocador de viola

Que eu sempre admirei.

Vi o meu patrão falar

Que está ficando pobre

Não dá mais para esperar

Porque o café não sobe

Vai a todos dispensar

Antes que o banco o cobre.

Vi uma mulher cantando

Acho que estava feliz

A sua roupa lavando

Como se fosse uma mis

No sol ia enxugando

Do jeito que sempre quis.

Vi o meu avô doente

Reclamando da idade

Reclamava dor de dente,

Dor nas costas e a saudade

Do lar onde antigamente

Encontrou felicidade.

Vi o meu irmão falar

Que o tempo está ruim

Vai tentar se empregar

Acha ser melhor assim

Um salário vai ganhar

Pra miséria ter um fim.

Vi a minha mãe chegando

Com a mão bem calejada

Disse que estava plantando

Sementes la na palhada

O feijão está madurando

Já dá uma feijoada.

O meu pai disse que não

Não chegou a nossa hora

Vai chegar um caminhão

Pra levar tudo pra fora

Ele vendeu o feijão

E vai ter dinheiro agora.

Minha mãe o abraçou

Vi o meu pai lamentar

Apesar do que passou

Nunca ouviu ela falar

Que um dia fracassou

E pensou abandonar.

Ela disse: meu querido

Você é um homem forte

Apesar de ter sofrido

Já venceu até a morte

Você foi o escolhido

Pra mudar a minha sorte.

Nessa hora eu descobri

Que vivi naquele lar

A conversa que eu ouvi

Me fez logo recordar

Que ali sobrevivi

Para aprender amar.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 09/07/2014
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