Alma limpa - uma homenagem às mulheres.

Caros amigos e amigas, este texto é uma singela homenagem às mulheres em geral e em particular às muitas 'Marias' que encontrei no Recanto, todas de alma muito limpa.

Fui limpar aminha alma

Na fonte da juventude

La eu vi exposta a palma

Que acompanha o ataúde

Também la estava a calma

Que é fonte da virtude.

Encontrei o meu vizinho

Que outrora atormentou

Reclamava bem baixinho

Do viver que praticou

Está só no seu cantinho

Esperando o que atrasou.

Vi no forno uma merenda

Preparada com esmero

Com produtos da fazenda

Todavia sem tempero

Cada um que se apresenta

Prepara o próprio tempero.

Vi a chama da fornalha

Sendo bem alimentada

Nela não se queima palha

Nem madeira ressecada

Há alguém que la trabalha

Pra cumprir sua jornada.

Vi um falso adorador

Disfarçado de migrante

Dizia ser confessor

Pra salvar a todo instante

Vi também falso pastor

Tentar pregar ofegante.

Vi um sábio analfabeto

Insistindo em aprender

Não sabia o alfabeto

Mas tinha imenso saber

Disse ele que o certo

É o que faz o bem viver.

Encontrei a alta estima

Que é irmã da vaidade

Dizia morar acima

Do portal da caridade

Dizia também ser prima

Da famosa ansiedade.

La estava uma senhora

Coma roupa por lavar

Chegou em cima da hora

Pra ocupar o seu lugar

Quando alguém disse agora

Todos devem confessar.

A palma disse que erra

Mas vai junto até o final

A calma disse que erra

Porque pensa ser banal

A virtude que ela encerra

É coisa bem natural.

O vizinho confessou

Que sentia muito medo

Pois aquele que atrasou

Devia chegar mais cedo

E na hora que chegou

Sentiu ser mero arremedo.

A merenda apresentou

Um faminto que pedia

O pedaço que queimou

Porque fome ele sentia

Ela então o alimentou

Com os restos da fatia.

O trabalhador do forno

Disse que somente olhava

Para ver no seu entorno

O que no forno queimava

Mantinha o alimento morno

Para dar a quem chegava.

O adorador gemia

O pastor foi descansar

O sábio que não sabia

Convidado a ensinar

Disse que não poderia

Não sabia nem falar.

A alta estima gritou

Que está perdendo tempo

A vaidade acenou

Ia acompanhar o vento

Seu lugar abandonou

Deu a outro o seu assento.

Chegou a vez da senhora

Que estava no seu canto

Sua roupa estava agora

Limpa como por encanto

Disse que a sua demora

Foi para secar um pranto.

Nessa hora o céu se abriu

Uma voz de la saía

Dizendo que tudo ouviu

E tudo compreendia

Aquela que veste anil

Simplesmente era Maria.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 06/07/2014
Reeditado em 06/07/2014
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