TOIROS DE MORTE

Um dos pratos que mais aprecio é galinha com arroz de cabidela. Este bárbaro prazer – mete sangue – deve ter qualquer reminiscência com o espectáculo cómico a que assisti tantas vezes quando, deitado no chão, espreitava o abate de bois e vacas no matadouro da minha cidade. Cómico, porque muitas vezes, um dos animais ao sair da antecâmara de morte – o curro – puxado por cinco homens e uma corda atada aos cornos, em vez de contrariar o puxão, avançava direitinho aos algozes obrigando-os a fugas de morrer a rir. Foram as primeiras corridas de morte que vi. Legais. Já tinha visto outras mortes, também legais e com muitos grunhidos, nas chamadas matanças de porco. E ainda outras de animais mais pequenos: galinhas, galos, coelhos, ouriços e passarinhos. A revolta que sentia desabava imediatamente a seguir ao petisco. Estava-me no sangue!

……

Assisti hoje a uma manifestação contra os toiros de morte e, sinceramente não gostei. Aquelas Lilis e aqueles Lélés, exibindo ao peito um atleta crucificado, gritavam “não aos toiros de morte em Portugal”, com um olhar tão raivoso que temi pelas minhas asas de anjo que sempre me acompanharam toda a vida. Vi rostos (salvo seja) transparecendo vontade de matar alguém que não esteja pelos seus ajustes. Temi ainda mais pelo Armando Soares meu amigo e do Barreiro, pelo Chibanga meu amigo e a viver na Golegã, e até pelo Padre Melícias também amigo, que costuma almoçar connosco na barraca do Badugas. (Bom, o Padre Melícias não é matador mas é do Sporting e gosta de bons bifes. Alem de ter condenado a Inquisição).

Vamos ver, senhores protectores dos animais: nunca se manifestaram contra o Presidente Bush por este querer matar Bin Laden? Se estão a pensar nisso desistam: o barbichas, neste momento, deve estar a prestar contas a Alá pela merda que tem mandado fazer por esse mundo fora! E nunca se manifestaram ainda – e porquê – contra Hitler, Estaline, Bokassa (este até comia carne humana – ou foi boato,não sei), Vasco da Gama e o Morgadinho?

Porque não vão passear os batons e o gel a Barrancos? Já foram, eu sei; mas os barranquenhos nem deram por isso, não ligaram. Estavam ocupados com as festas e terão pensado que a manifestação era contra o aumento da carne de vaca.

Aceito que é pecado e muito feio martirizar os animais. Mas todos os animais; seja qual for o tipo de martírio! E vocês devem saber melhor do que eu. Por isso, tenho pena de anunciar à Sociedade Protectora dos Animais que nenhum dos seus militantes será convidado para o almoço que vou realizar, na próxima semana. Festejo o nascimento de 7 gatinhos que a minha Pantoja deu à luz (apesar de o ano passado lhe ter dado um pontapé quando o raio da gata me partiu o vidro que protegia a foto do grande Paquirri). A ementa está escolhida: cozido à portuguesa.

P.S.- Para me desculparem do pontapé que dei na Pantoja aceitem esta caixinha de chocolates Ferrero Roché que o mordomo Ambrózio me trouxe. A Madame, que está a posar para mim, fica comigo. Não tenham receio: não utilizo os modos selvagens do Bokassa!