O DIABO E A MULHER

I

Um rico que ficou pobre

E ao Diabo a alma vendeu,

Recuperou todo o cobre,

Muito mais se enriqueceu,

Porém no dia marcado

Pelo Satã foi cobrado

A entregar o que era seu.

II

No contrato que escreveu,

Ficou tudo declarado:

Que o Diabo era sócio seu,

Porém estava obrigado,

Conforme o atual sistema,

Resolver qualquer problema

Que lhe fosse apresentado.

III

Aflito e desesperado,

O devedor foi falar

Com a esposa do seu lado,

Pedindo para o ajudar

Com alguma sugestão,

Resolvendo-lhe a questão

E do Inferno o salvar.

IV

Mulher foi sempre sem par,

Se o caso é de esperteza;

Tanto na sorte ou no azar,

Sem preço é sua beleza;

Disse, então: - Deixa comigo,

Resolvo este caso e digo

Que viverás na riqueza.

V

O Demônio, com certeza,

Chegou na hora marcada,

Botou as cartas na mesa

E quis a conta acertada;

Nada o marido falou,

Mas a mulher o encarou,

Não se deu por arrogada.

VI

- Proponho-lhe uma charada,

O contrato fala disto,

Tem cláusula estipulada

E no meu direito insisto;

Dou-lhe então um pentelho...

O Diabo ficou vermelho,

Exclamando: - O que é isto?

VII

Fui derrotado por Cristo,

Que era homem de bem,

Mas nunca eu pensei nisto:

"Perder pra mulher também!

De teimar eu não desisto,

Tentarei resolver isto

Com as mulheres no harém".

VIII

Uma coisa me convém

Dizer a garfo ou colher,

Perco aqui, ganho no além,

Não sou eu algum qualquer;

Esperem-me pra depois,

Enfrentarei vocês dois

Para o que der ou vier.

IX

Respondeu-lhe a mulher:

- Volte aqui novamente

Só quando você tiver

A solução prontamente;

Dou-lhe um pelo enrolado,

Mas o quero esticado

Sem uma curva somente.

X

No fogo, o Cão insistente

Tentava o pelo esticar;

Só que o pentelho quente

Mais se fazia enrolar

E o Diabo com a voz doce,

Do casal aproximou-se

E resolveu negociar.

XI

A mulher pôs-se a falar:

- Vamo-nos pautar na Lei,

Mas se você endireitar

Este aí que eu lhe passei,

Nem por isso me afronte,

No pub tenho outro monte

Restante que não lhe dei.

XII

Disse o Diabo: - Não sei!

Isso é azar demais,

Onde foi que eu errei

Para escutar tantos ais,

Vejo que a mulher é fogo,

Perdi para ela o jogo,

Do inferno não saio mais.