O meu pai
Meu pai era inquilino
Escravo de um aluguel
Hoje é aposentado
Tem sombra e um pote de mel
Herdei do velho a escrita
Olha que coisa bonita
Hoje escrevo Cordel
O meu é muito chato
Não gosta de barulho
Mas é bem organizado
Não fica ajuntando entulho
E dele herdei este senso
Antes de agir, eu penso
E nem pego em bagulho
Quando o vejo eu aceno
E demonstro o meu respeito
Isso não é caretice
Fui criado desse jeito
Herdei a sua humildade
Também a sinceridade
Estão juntas no meu peito
Aprendi a trabalhar
Vendo o jeito do meu pai
Meu velho é um guerreiro
Feito um forte samurai
Ele foi bastante pobre
Hoje é madeira nobre
Que enverga, mas não cai
Minha mãe, boa senhora
Cuidou bem do seu filhinho
O meu pai trabalhador
Trazia rango pro ninho
Herdei dele sentimentos
Que o mais forte dos ventos
Não desvia o meu caminho
Sou de fazer brincadeira
Não tenho preocupação
Faço as minhas chacotas
De qualquer situação
Meu pai não “valia nada”
Contava cada piada
Só pra fazer diversão
Meu lar é um caminhão
Meu quintal, uma estrada
Saio, nem raiou o dia
Volto já de madrugada
Meu pai é eletricista
E este pobre cordelista
Não seguiu sua jornada
Por meu pai eu não teria
Esta vida de estradeiro
Ele quis que o seu filho
Fosse um grande marinheiro
Mas deixei meu velho honrado
Não me meto em troço errado
Pra ganhar o meu dinheiro
Me causava muito espanto
Curiosidade também
O dinheiro do meu pai
Esticava mais que além
As despesas tando prontas
Ele pagava suas contas
Sem dever nada a ninguém
Não tirei nenhum centavo
Da carteira do meu pai
Filho bom é o que soma
Ele nunca subtrai
O velho é muito honesto
Mesmo se ficar com resto
Ele balança, mas não cai
O meu não prometia
Se não desse pra cumprir
Nunca provocou meu choro
Sempre quis ver eu sorrir
Falava que a juventude
Tinha que poupar saúde
Pra mais tarde não ruir
Meu pai nunca foi dono
Sempre foi um empregado
Tinha só uma camisa
E um par de tênis usado
Sua vida, hoje é graça
De manhã senta na praça
Com pose de aposentado
Meu pai soube me educar
Me ensinou o que é trabalho
Quando eu me perdi na vida
Me ensinou um novo atalho
Só erra quem é gente
Mesmo um homem prudente
Já teve um momento falho
Pai tem cartas nas mangas
Feito um grande jogador
Mesmo assim a sua vida
Foi marcada pela dor
Trabalhou quando moleque
Teve o caráter em xeque
Hoje é mais que vencedor
Dia 26/06 foi aniversário do meu pai, como ele não gosta de presentes, resolvi deixar registrado este poema pra ele.