O PADRE DE PELOTAS
Lá no Rio Grande do Sul
Os machos andam de botas,
De bombachas e esporas,
Cruzando pampas e grotas
Com chapéus de abas largas,
Veneram Getúlio Vargas
E não gostam de lorotas.
Na cidade de Pelotas,
Que é bastante famosa
Em todo o Brasil afora,
Por ter a mulher dengosa
E o homem mais valente,
Houve um caso indecente,
De lá nos veio esta prosa.
Batina da cor de rosa
O vigário da cidade
Gostava muito de usar
E se sentia à vontade
Entre crianças e velhos,
Pregando quatro evangelhos
Com amor e humildade.
Eu não sei se é verdade,
Acho esquisito demais,
Enquanto alguns duvidam,
Confirmam os outros mais;
Devotos de coração
Dizem que é difamação,
Porém saiu nos jornais.
Crescia cada vez mais
Do vigário a barriga,
As mulheres cochichando,
Os homens fazendo intriga:
Já que o padre bebe a dose,
Talvez seja uma cirrose
Ou até mesmo lombriga.
Houve inclusive uma briga
Que acabou muito mal
Entre a torcida do Grêmio
E a do Internacional;
Foi esse mais um torneio,
A Brigada entrou no meio
Naquele grande Grenal.
Internou-se no hospital
O doente padre sisudo,
Médicos e residentes
Examinaram de tudo,
Nenhuma causa achando,
Foram logo anestesiando
O Mom Senhor barrigudo.
Na operação, contudo,
O problema foi sanado;
Cirurgia exploratória,
Líquido e sangue drenado,
Quiçá por algum estresse,
Ou por rezar muita prece
Fora o padre embarrigado.
Pós ter sido operado,
O barrigão do vigário
Voltou ao seu natural
Tal como um relicário,
Só que ainda anestesiado
Com um bebê foi premiado,
Ideia dum estagiário.
O estudante salafrário
Teve inspiração brilhante,
Aproveitando da sorte
Que vem no melhor instante,
Para o padre um filho deu
Da solteira que morreu
Ao dar a luz seu infante.
O padre ficou radiante,
Até chorou de euforia,
Um pouco ainda confuso,
Voltando da anestesia,
Ele abraçou a criança,
Jurando em sua bonança
Que no amor a educaria.
Viveu com muita alegria
O restante de sua vida
E o seu filho adotivo
Teve estudo e guarida;
Com vinte anos de idade
Foi para a universidade,
Mais uma estrela caída.
Carente da mãe querida
Sem ter dela beijo e abraço,
Nem por isso aquele jovem
Deixou de dar o seu passo;
Tinha o padre como pai,
Quem caminha longe vai
Com a vontade de aço.
"Meu pai fez e eu desfaço
Traição tamanha assim,
Seduziu minha mãezinha
Que deu a vida por mim!"
Enquanto ele assim pensava
O padre que velho estava
Foi antevendo seu fim.
Chamando o moço, enfim,
Desse modo foi dizendo:
- Vou lhe contar a verdade
Se é que não está sabendo;
Disse o jovem: - Ai, ai ,ai,
Sei que o senhor é meu pai,
Não me fique aborrecendo!
Disse o padre: - Estou morrendo,
Sou eu já um moribundo,
Mas saiba que se engana,
Se não me ouvir um segundo:
Sou sua mãe, na realidade,
Seu pai é a Santidade,
O Bispo de Passo Fundo.