A dor do adeus

É uma dor angustiante

Que jamais chega ao seu fim

Está perto a todo instante

Caminhando junto a mim

Em geral é tolerante

Com quem dela está a fim.

Traz de volta algum passado

Faz viver nova ilusão

De acertar o passo dado

E acabar com a solidão

Deixa o lar espedaçado

Pra buscar compensação.

É uma dor impessoal

Faz viver o que partiu

Não faz bem sem fazer mal

Não constrói se destruiu

Pode ser coisa banal

Mas no tempo ela seguiu.

Ela faz jogo de cena

Indo até o corredor

Também sofre a sua pena

Mas jamais vai ao doutor

Não faz o que lhe ordena

E acompanha o portador.

Faz pra paz uma armadilha

Mas não recupera a paz

Permanece na família

Um abraço lhe compraz

Acolhe o neto e a filha

Que só frustração lhe traz.

Ela é como a falsidade

Que está no desespero

Lembra que na mocidade

Gastou todo o seu dinheiro

Vai viver com a saudade

Que lhe segue o dia inteiro.

Pra ganhar um mero abraço

O adeus faz muito esforço

Tenta se soltar do laço

Que está no seu pescoço

Não consegue dar um passo

Temendo cair no poço.

O adeus é leniente

Com a dor de uma partida

Na saudade está presente

À tristeza dá guarida

E também é persistente

Em pensar no fim da vida.

Ele está na meninice

Quando tudo desejamos

Desenvolve a gabolice

Quando nos elogiamos

No final, vindo a velhice,

Um adeus também ganhamos.

Nosso adeus é permanente

Não há volta nem retorno

Não há fraco nem valente

Que não entre nesse forno

O passado e o presente

Se encontram sem adorno.

O sofrer por um adeus

Traz de volta o compromisso

De alimentar os seus

Dar escola e dar serviço

Não discriminar ateus

E também fugir do vicio.

No adeus feito com a mão

Pode estar uma lembrança

De uma antiga oração

Que rezou quando criança

E como recordação

Guardou junto à esperança.

Se o adeus é sem palavras

Pode haver ressentimentos

Não tem tranca nem aldravas

Mas tem muitos sentimentos

Esconde a dor que estava

Sufocando os sofrimentos.

Sabe que no fim há luz

Há espaço pra viver

Não há sofrimento ou cruz

Não há dor nem padecer

Cada um o bem produz

Com o que vai oferecer.

O adeus fica sentado

Vigiando o infinito

Cada um é perguntado

Se gostou do chão bendito

E também é explicado

Se achar algo esquisito.

Nosso adeus não vai embora

Vendo a paz se aproximar

Ela chega sem demora

Quando chega é pra ficar

Não chega fora de hora

Para não atrapalhar.

Meu adeus está presente

Nos recados para os meus

Todos foram pacientes

Nunca se tornaram ateus

Porém crente também sente

A dor da palavra adeus.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 21/06/2014
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