carro atolado
I
de repente o clarão
da manhã me anuncia
que a estrada da alegria
nunca está na contramão
e a varinha de condão
que a fada não me trouxe
veio com a palavra doce
que ouvi do teu coração
mas fiquei com a impressão
que a tristeza melindrou-se
II
pelo preço dessa luz
da abóbora quero a cor
numa caixa de isopor
levo um pouco de cuscuz
tua cara me induz
que és brabo como a foice
meus olhos se arregalou-se
com o ronco do trovão
e eu fiquei com a impressão
que a tristeza melindrou-se
III
no coqueiro estou me vendo
pra de riba ver a praia
pra que a menina de saia
não se afaste assim correndo
não entendo de Nintendo
terrabytes, ou o que fosse
meu tablete estatelou-se
nas paredes da aflição
e eu fiquei com a impressão
que a tristeza melindrou-se
IV
santo que é casamenteiro
nunca foi à minha missa
mas é questão de justiça
se vou vivendo solteiro
mas se faltar o dinheiro
a alegria acabou-se
vive-se como se fosse
sempre com o pires na mão
isso me dá a impressão
que a tristeza melindrou-se
V
franzino, fraco, febril,
triste, calado, estranho
homem assim sem tamanho
parece quase infantil
mas tem alguém que o viu
bem invocado, alarmou-se,
dando porrada e coice
lutando como um leão
fiquei foi com a impressão
que a tristeza melindrou-se
VI
sinto falta da Maria
mas faltei foi com a verdade
quando disse a improbidade
que sem ela viveria
hoje vejo, dia a dia,
meu motor esmerilhou-se
o meu carro atolou-se
numa lama sem perdão
e eu fiquei com a impressão
que a tristeza melindrou-se...