carro atolado

I

de repente o clarão

da manhã me anuncia

que a estrada da alegria

nunca está na contramão

e a varinha de condão

que a fada não me trouxe

veio com a palavra doce

que ouvi do teu coração

mas fiquei com a impressão

que a tristeza melindrou-se

II

pelo preço dessa luz

da abóbora quero a cor

numa caixa de isopor

levo um pouco de cuscuz

tua cara me induz

que és brabo como a foice

meus olhos se arregalou-se

com o ronco do trovão

e eu fiquei com a impressão

que a tristeza melindrou-se

III

no coqueiro estou me vendo

pra de riba ver a praia

pra que a menina de saia

não se afaste assim correndo

não entendo de Nintendo

terrabytes, ou o que fosse

meu tablete estatelou-se

nas paredes da aflição

e eu fiquei com a impressão

que a tristeza melindrou-se

IV

santo que é casamenteiro

nunca foi à minha missa

mas é questão de justiça

se vou vivendo solteiro

mas se faltar o dinheiro

a alegria acabou-se

vive-se como se fosse

sempre com o pires na mão

isso me dá a impressão

que a tristeza melindrou-se

V

franzino, fraco, febril,

triste, calado, estranho

homem assim sem tamanho

parece quase infantil

mas tem alguém que o viu

bem invocado, alarmou-se,

dando porrada e coice

lutando como um leão

fiquei foi com a impressão

que a tristeza melindrou-se

VI

sinto falta da Maria

mas faltei foi com a verdade

quando disse a improbidade

que sem ela viveria

hoje vejo, dia a dia,

meu motor esmerilhou-se

o meu carro atolou-se

numa lama sem perdão

e eu fiquei com a impressão

que a tristeza melindrou-se...

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 15/06/2014
Código do texto: T4845424
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