CORDEL – As grandes copas no Brasil – 08.06.2014
 
CORDEL – Grandes copas no Brasil – 08.06.2014
 
 
Claro que as condições financeiras do Brasil não seriam capazes de bancar uma Copa do Mundo, até por que a necessidade de construir Arenas era muito grande, praticamente doze delas, a custos extraordinariamente altos, isso sem contar com os reajustes obrigatórios a que se sujeitam os contratantes devedores. Houve estádios que tiveram seu orçamento inicial multiplicado por quatro, cinco vezes, segundo dizem. Mas há de ser lembrada a necessidade das obras do entorno, da locomoção dos torcedores, que custam muito dinheiro, inclusive com desapropriações legais e outras despesas. Chego a pensar até que o governo resolveu bancar essa Copa, que é a vigésima da FIFA, pensando em ganhá-la e por consequência ser reeleita a presidente Dilma Rousseff, numa estratégia a principio tida como boa. O que não se garante é que perdendo ela volte a comandar o país, funcionando assim como uma faca de dois gumes. Sou independente, não tenho compromisso com ninguém, salvo com a minha consciência. Esse cordel ficou longo, mas ainda caberiam outras estrofes, porém não vou cansar meus leitores, porém a verdade é que vou publicá-lo na forma usual da modalidade (folheto) que é bem simples, a fim de distribuir com os amigos.
 
Oitavas de sete sílabas poéticas.
Sem mote.
Elisão (supressão de vogal átona final de um vocábulo) optativa.
 
 
O governo está falando
Que teremos grande copa
Eu aqui estou pensando
Que não será muita sopa
Pois estamos enganados
Nosso time não tá bom
Vamos ser ludibriados
Não podemos dar o tom
 
O Brasil é campeão
De todo e qualquer torneio
Estamos na contramão
A brincar nesse paleio
Vejamos na educação
Um setor essencial
Com dirigente cagão
A nossa escola anda mal
 
E de tanto analfabeto
Até mesmo governante
Neste país obsoleto
Numa tristeza gritante
Vão se formando doutores
Sem muita imaginação
Mas assim é meus senhores
Essa copa está na mão
 
O brasileiro faminto
Pela manhã falta o pão
Quero dizer o que sinto
Ao povo desta nação
Essa copa é sempre nossa
Falo da desnutrição
Conosco não há quem possa
O país é campeão
 
Enquanto a comida sobe
O dinheiro logo encurta
Mesmo que o governo roube
Quando o comércio nos furta
Pois o pobre bem teimoso
Quer dar uma de ricão
Nesse país de leproso
Esse povo é campeão
 
Enquanto a fome campeia
Na mata, agreste e sertão,
O mundo todo estonteia
Com essa situação
Na seca não se produz
Na chuva de aluvião
Num governo que conduz
A miséria de roldão
 
Fome é sinal de miséria
Não se engane meu irmão
E nessa grande matéria
Vamos de copa na mão
Por isso eu já passei
Faz muitos anos então
Pedi esmola bem sei
E também sou campeão
 
Mas sem ter onde morar
O brasileiro coitado
A copa vai levantar
Gritando desanimado
Porque sem ter algum teto
Pra abrigar seu quinhão
Vai pulando qual inseto
Dormindo de chão em chão
 
Seu quinhão é a família
Que construiu com amor
O problema é que a matilha
O dinheiro já roubou
Foi tudo no mensalão
Escândalo que aflorou
Mais uma copa na mão
Que pro mundo escancarou
 
Trabalho também não acha
Pois não é qualificado
Não sabe nem passar graxa
Num carro velho e quebrado
Mas a culpa é de quem?!
A quem cabe à educação
Ao governo de ninguém
Que é hexa campeão
 
Mas o governo propaga
Com grande satisfação
Preencheu milhões de vagas
Acreditar nisso: Não
O salário encurtando
Com a volta da inflação
Meu caro vá anotando
Mais essa de campeão
 
Se a economia não cresce
Como aumentar o emprego
Ao contrário ele desce
Tirando qualquer sossego
É mentira deslavada
Gente de pires na mão
E então numa enxurrada
Mais uma vez campeão
 
Pra falar de segurança
Perco até minha vontade
Pois ao ver toda gastança
E tanta da falsidade
Não posso sair de casa
Nem mesmo ir ao portão
Pois o larápio me arrasa
Nisso também campeão
 
O que muito me assombrou
Foi esse esquema montado
Que o país adotou
De fato vai ser marcado
E assim todos verão
O excesso de cuidado
Com cada delegação
Até com carro blindado
 
Até as forças armadas
Do Brasil, da União,
Lá perto estão postadas
Zelando cada nação
E elas com sabedoria
Trouxeram seus guarda-costas
É que nenhuma confia
Pois nós somos mesmo uns bostas
 
Os gastos dessa despesa
Ainda serão somados
Disso eu garanto a certeza
Aos números divulgados
Gente vai ser muita grana,
Jogada a todos os lados
O comitê não me engana
Falta pro morro e alagados
 
E nas pequenas cidades
O esgoto corre no chão
Nunca vi tanta maldade
Com o nosso cidadão
Foco de muitas doenças
Até na imaginação
Vão-se também todas crenças
Meu país é campeão
 
Com esgoto a céu aberto
E sem ter saneamento
É o campeão decerto
Até mesmo em pensamento
A água que nós bebemos
Suja, barrenta, doente,
Disso todos nós sabemos
E votamos nessa gente
 
Crianças desamparadas
Na rua em cada sinal
Vão vivendo abandonadas
Isso aqui já é normal
E chutando de barriga
Vão crescer sem profissão
Eita crime duma figa
Brasil supercampeão
 
Como falar em saúde
Se nos falta o essencial
Melhor trazer o ataúde
Pois nosso povo está mal
Doenças proliferando
Um campeão desigual
Mas o povo vai gritando
Está faltando hospital
 
Médicos já nem se fala
Em Cuba mandou buscar
Paga mal e se propala
Saúde tem seu lugar
Até Ronaldo falou
Copa não quer hospital
Mas Arena sim senhor
Esse sujeito é do mal
 
Precisamos na verdade
Dum governo da razão
Nada aqui de falsidade
E nem de pires na mão
E surge mais um troféu
Aquele da corrupção
Levantar as mãos pro céu
Isso sim é campeão
 
Mas o Barbosa pensou
Que resolvera o problema
Parece doido ficou
Vai carregar o dilema
Porquanto não se vendeu
Pois de grande educação
Penso que se arrependeu
Mas deixou sua lição
 
Corrupção gera escândalos
Por toda sociedade
Só agora são os vândalos
A quebrar toda a cidade
Na pancada, mas no saque,
Quebram mesmo pra valer
Nisso o país é um craque
E bota pra derreter
 
Mas agora me pergunto
Quem é que quebra até mais
Porém vou mudar de assunto
Tem os campeões morais
Que no congresso se assentam
A votar leis sem razão
Coisas que não se sustentam
Recriando a abolição
 
Campeão da impunidade
Que norteia na nação
Mas tudo é falsidade
Não existe mais prisão
E naquele pega e solta
Polícia fica arrasada
Pode levar que tem volta
Bem melhor não fazer nada
 
Até que há punição
Pois os presídios lotados
É horrível a detenção
Os caras amontoados
Vida pior do que bicho
Isso é que ser campeão
Tomam mesmo por capricho
Não há reeducação
 
E com superlotação
Jamais poderemos ter
A tal da reinserção
Nunca vai acontecer
O governo não quer não
Eu até que já mandei
Minha boa opinião
Não escutaram, não sei.
 
Transformar nossas Arenas
Em casas de detenção
Basta ligar as antenas
Eu digo de coração
Pois espaço tem demais
Tem de tudo até conforto
Eu vou botar nos jornais
Sugestão só no aborto
 
E nessa modernidade
Progresso da criação
E como fatalidade
Mais uma vez campeão
A grana que foi gastada
Como monte ou montão
Ia ser aproveitada
Por presos na seleção
 
No transporte e nas estradas
Somos também os piores
Como país das lombadas
Até parecem folclores
Jogamos dinheiro fora
Com muita reconstrução (?)
Desse país vou embora
Não quero ser campeão
 
Violentam as mulheres
E não sofrem punição
Sei que não é o que queres
Como grande campeão
Matando todos os dias
Uma fêmea de roldão
E perdemos nossas tias
Somos grande seleção
 
E no roubo vão vivendo
Os heróis desta nação
Assim vamos aprendendo
Com um monte de babão
Que essa copa já comprou
Deu uma de sabichão
Mas na FIFA confiou
E pode dar um “zebrão”
 
O nosso time está fraco
Nada não garante não
Pode dar tudo em barraco
Na peia do Felipão
Bota um frangueiro no gol
Teimoso como uma figa
Goleiro bom encostou
Tem de comer a espiga
 
Quando levar um frangaço
Toda a galera a gritar
Bem feito pro seu palhaço
Que apenas sabe mandar
No jogo-treino de ontem
Quando jogou com a Sérvia
Por favor nada me contem
Porque já estou de amnésia
 
Porém a bem da verdade
Não torço contra o Brasil
Discordo na ansiedade
Dessa grande turma vil
Porque já batemos tudo
E a todos com emoção
Nesse país cabeludo
Todo mundo é campeão
 
Ansilgus

 


Nossa homenagem ao grande jogador Fernandão, ex-atleta do Internacional de Porto Alegre, falecido no dia 07.06.2014, em desastre aéreo.


Interações:
09/06/14 - Miguel Jacó

Campeões de anarquias,
Ladrões por descendência,
Esta é nosso etnia,
Repleta de incompetência,
Tomara que chegue logo,
Toda nossa insolvência,
Pra recomeçar a pátria,
Sem estas malevolências.

Bom dia Ansilgus, seus versos dissecam as nossas mazelas em suas
minúcias, parabéns pela justa indignação presente nesta primorosa
cadeia de cordéis, um forte abraço, MJ.

 
11/06/14 - Isabel Ramos. Muito grato pela interação.

Êta copa tão sofrida

Onde o desmando é vencedor
A morte abraça a sobrevida
Deste guerreiro povo sofredor
 
11/06/14 – Giustina, muito grato pela participação.

Depois de tanta disputa

A Copa enfim chegou
Governo ganhou a luta
Dinheiro nunca faltou

Enquanto isso o povo
Ganhando parco tostão
Nunca vê nada de novo

Na Saúde, Educação.
 
ansilgus
Enviado por ansilgus em 08/06/2014
Reeditado em 11/06/2014
Código do texto: T4836833
Classificação de conteúdo: seguro
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