Minhas flores
Minhas flores, meu jardim,
Tantas vezes replantado
Foi na vida para mim
Pedaço de chão sagrado
E depois chegou ao fim
Por não ter sido cuidado.
Muitas vezes replantei
As roseiras já com rosas
Muitas vezes me espetei
Nos espinhos que dão rosas
Outras vezes reclamei
Por estragarem as rosas.
Mil defeitos sei que tenho
Mas não ouso reclamar
Porque sempre que aqui venho
Ouço a voz do bem falar
Que naquele meu empenho
O que fiz foi muito amar.
Meus tropeços pela vida
Me fizeram ser prudente
Ao cuidar da minha lida
Mesmo estando já doente
Apesar de combatida
Minha vida foi decente.
Meu viver não tem riqueza
Mas tem muita gratidão
Por ter tido só pobreza
Mas não me faltou o pão
E sem ter delicadeza
Soube amar e dar perdão.
Soube sim bem perdoar
Quando fui desmerecido
Tive a flor pra me amar
Tive o meu jardim florido
E se alguém me maltratar
Dou-lhe abraço de amigo.
Serei sempre o jardineiro
Que cuidou do seu jardim
Procurando o verdadeiro
Sentido da vida enfim
De alguém sem companheiro
Que não sai do botequim.
Meu desejo de falar
Sobre esse jardineiro
É somente pra falar
Como quem foi o primeiro
A dizer que para amar
Não precisa ter dinheiro
Foi somente pra dizer
Que vivi com o meu salário
Consegui sobreviver
Nunca fui um salafrário
Nesse pouco receber
Aprendi não ser falsário.
Meu prazer sempre foi pouco
Mas não tive frustração
Se ganhei ouvido mouco
Devolvi com o perdão
Se alguém diz que sou louco
Ofereço a minha mão.
Reconheço na cidade
O traçado do jardim
Que na minha mocidade
Construí só para mim
Mas depois com mais idade
Doei flores até o fim.
A despeito de ser pobre
Fui ordeiro na palavra
Sei que a terra tudo cobre
Mas a honra não se lava
Sendo assim fui muito nobre
Pois minha palavra honrava.
Fui senhor do meu destino
Minha estrada eu escolhi
Do amor fui paladino
Muito amor eu concedi
Se da flor ganhei ensino
Meu jardim eu reparti.
Nesse ato de bondade
Que eu fiz ao repartir
Encontrei felicidade
Que não me deixou partir
Fez com que a caridade
Me levasse ao meu porvir.